As decisões dos BCs vão revelar tamanho da preocupação global com a inflação

O que vem pela frente: indicadores e decisões de bancos centrais ao redor do globo vão dar dimensão sobre a visão das autoridades sobre alta de preços

O prédio do Federal Reserve, o banco central americano, em Washington, D.C.
Por Craig Torres
31 de Outubro, 2021 | 04:16 PM

Bloomberg — O Federal Reserve (a autoridade monetária dos EUA) e seus pares globais estão prontos para ficar sob o holofote em três dias de decisões e reuniões com autoridades monetárias, e que vai revelar se estes compartilham o mesmo alerta vermelho sobre o aumento da inflação em todo o mundo.

O Banco Central da Austrália será o primeiro, em uma decisão na terça-feira, que deve ser “potencialmente reveladora para o mercado”, de acordo com James McIntyre, da Bloomberg Economics. As autoridades estão enfrentando uma alta surpreendentemente forte nos preços básicos ao consumidor, ainda que economistas afirmem que eles devem evitar o aumento das taxas de juros novamente, ao menos por enquanto.

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As decisões monetárias da semana

A reunião do Federal Reserve na quarta-feira provavelmente dará início a uma redução na compra de ativos e títulos, algo já sinalizado pelo presidente da entidade, Jerome Powell. Economistas e membros do mercado estarão atentos sobre quando a redução começará, e quanto tempo o processo levará.

O banco central americano comprou cerca de US$ 120 bilhões em ativos por mês e se comprometeu a manter esse ritmo até que o “progresso substancial” seja alcançado tanto em termos de emprego quanto de inflação.

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As autoridades do Fed concordam amplamente que o último teste foi cumprido - os preços subiram 4,4% em setembro em relação ao ano anterior, de acordo com o medidor oficial. Eles estão mais divididos sobre o mercado de trabalho, e talvez o payroll americano de sexta-feira possa oferecer uma visão mais clara sobre o tema.

Na quinta-feira, as atenções se voltam para o Banco Central da Inglaterra, BoE, cuja decisão pode surpreender na esteira dos comentários recentes de algumas autoridades, que sugeriram uma preocupação repentina sobre as pressões de preços. Os investidores apostam em alta, enquanto os economistas não prevêem nenhuma mudança.

Estados Unidos

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Além da decisão do Fed, os investidores também acompanharão os principais indicadores econômicos locais, que vão trazer um extrato atualizado da recuperação da economia neste segundo ano de pandemia.

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O payroll não-agrícola de outubro, previsto para sexta-feira, deve mostrar uma recuperação nas contratações após dois meses decepcionantes de dados de emprego. Embora o setor de lazer e hospitalidade possa registrar ganhos em meio ao declínio dos casos de Covid-19, o crescimento do emprego ainda é amplamente limitado por conta de uma oferta limitada de trabalhadores. Uma pesquisa da Bloomberg junto a economistas projeta uma queda de 4,8% para 4,7%.

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Outros dados dos EUA nesta semana incluem indicadores sobre a atividade manufatureira de outubro e pedidos de bens duráveis.

Os rendimentos estão muito longe de onde Banco da Reserva da Austrália disse que estariam.

O Banco da Reserva da Austrália, RBA, se reúne para decidir a política monetária na terça-feira, após uma aceleração da inflação de volta ao intervalo da meta do banco central. Esse movimento inesperado alimentou ainda mais as especulações de que o cronograma do chefe da autoridade monetária do país, Philip Lowe, para eventuais aumentos de juros será intenso. Uma declaração de política mais detalhada no final da semana pode dar mais clareza sobre o pensamento atual da entidade.

Indicadores da indústria de toda a região virão a público na segunda-feira, com a escassez de eletricidade e o aumento dos preços das commodities pesando sobre os fabricantes. Na China, relatórios de PMI no domingo mostraram que a atividade fabril se contraiu pelo segundo mês consecutivo agora em outubro.

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A Malásia define as taxas de juros na quarta-feira e a Indonésia informa o PIB do terceiro trimestre na sexta-feira.

Europa, Oriente Médio, África

Embora os holofotes centrais sejam mais sobre o Banco Central da Inglaterra, o BOE e seus similares em toda a região, da Noruega ao Leste Europeu, as aparições da presidente do Banco Central Europeu, BCE, Christine Lagarde, também podem chamar a atenção dos investidores.

O BCE falhou, na semana passada, em convencer os mercados financeiros de que não vai mais aumentar as taxas de juros no próximo ano, aposta que se intensificou depois que os dados de inflação da Zona do Euro na sexta-feira aceleraram para mais de 4% pela segunda vez. As autoridades devem usar as aparições dos próximos dias para contrariar tais expectativas.

Inflação da Zona do Euro acelerou para 4,1% em outubro.

Entre os relatórios da Zona do Euro, dados das fábricas alemãs e a produção industrial revelarão como os gargalos de oferta global impactaram a maior economia da região em setembro.

Do outro lado, a Turquia divulga os números da inflação de outubro na quarta-feira, poucos dias depois de elevar sua previsão de final de ano para 18,4%. Instado pelo presidente, o Banco Central local reduziu sua taxa básica de juros em 300 pontos base em cortes consecutivos, alertando para pressões de preços “transitórias”.

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O Ministério das Finanças da Zâmbia fornece na terça-feira uma atualização sobre as negociações com o Fundo Monetário Internacional, o FMI. O primeiro inadimplente soberano da era da pandemia da África está buscando um programa econômico que ancore negociações de reestruturação da dívida com credores, incluindo detentores de seus US$ 3 bilhões em títulos em moeda estrangeira.

Na sexta-feira, os dados das Ilhas Maurício provavelmente mostrarão que a inflação desacelerou pelo terceiro mês consecutivo em outubro, após atingir um pico de 6,5% em julho, dando ao BC espaço para manter a taxa básica de juros em sua reunião final em dezembro.

E na Rússia, a inflação de quarta-feira mostrará até que ponto o crescimento dos preços continua a exceder a meta do BC, potencialmente sinalizando ainda mais aumentos nas taxas nos próximos meses após o aumento inesperado em 22 de outubro.

América Latina

Um relatório divulgado na segunda-feira pode mostrar que os preços na capital do Peru, Lima, diminuíram em outubro pela primeira vez desde abril.

No Peru, a previsão é de leve queda nos preços pela primeira vez desde abril.

Na terça-feira, o BC colombiano publica a ata de sua reunião de 29 de outubro, na qual os legisladores aumentaram a taxa básica em meio ponto percentual, para 2,5%.

Os números do PIB do Chile, que têm superado as expectativas desde fevereiro e serão atualizados na na terça-feira, provavelmente registrarão um crescimento de dois dígitos pelo sexto mês em setembro.

Recuperação à vista?

O Banco Central do Brasil publica na quarta-feira a ata da reunião da semana passada, em que divulgou sua maior alta nas taxas de juros em quase duas décadas, empurrando a Selic para 7,75%.

A inflação está mais de 600 pontos-base acima da meta, e o presidente Jair Bolsonaro tem grandes planos de gastos antes da eleição do próximo ano. O BC disse que os investidores devem esperar um segundo aumento direto de 150 pontos-base em 8 de dezembro.

Veja mais: Juros não são única arma em batalha global contra inflação

Dados divulgados na quinta-feira podem mostrar que a produção industrial do Brasil caiu pelo quarto mês em setembro devido a interrupções na cadeia de suprimentos e aumento dos preços da eletricidade.

Já a Colômbia reporta na sexta-feira os números da inflação de outubro. Analistas prevêem encerrar 2021 em 4,9% e 3,5% no próximo ano.

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