São Paulo — O Fleury, um dos principais grupos de medicina diagnóstica do país, está virando a página da pandemia. Os testes para a detecção da doença tiveram a menor participação no faturamento da companhia no terceiro trimestre, à medida em que a vacinação imunizou mais da metade da população, e os brasileiros voltaram às unidades para fazer outros exames laboratoriais e de imagem - alguns tratando sequelas deixadas pela Covid-19.
De julho a setembro, a receita bruta do Fleury atingiu R$ 1,1 bilhão, um novo recorde. Nos nove meses do ano, o indicador já totaliza R$ 3,1 bilhões, um crescimento de 39,4 %. O desempenho resultou em uma alta de 162,8% do lucro líquido ajustado, que somou R$ 308,7 milhões entre janeiro e setembro. Os exames para Covid-19 representaram só 6% da receita bruta, com a realização de 400 mil testes no terceiro trimestre (RT-PCR e sorologias).
“O recorde da receita bruta demonstra um crescimento forte dos exames eletivos, tanto de análises clínicas como os exames de imagem. Não dependemos de Covid. Este é o trimestre em que o percentual da receita é o menor possível comparado aos outros trimestres”, diz a CEO do Fleury, Jeane Tsutsui, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Os exames de imagem tiveram um crescimento de 16,8% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano passado. “Mesmo quando a gente compara com o pré-pandemia, com 2019, houve um crescimento de 10,6%, mostrando realmente um crescimento dos exames eletivos. Outro ponto: a gente vem crescendo com os exames de genômica, que tiveram um crescimento de 43%. Isso é importante porque havia aquela dúvida ‘e os exames de Covid?’ Eles estão perdendo sua participação trimestre a trimestre, e os exames eletivos recuperaram força total”, afirmou a CEO.
Pós-Covid
A menor procura por exames de detecção da Covid não significa que a doença ainda não provoca demanda de outros procedimentos na rede de laboratórios. As unidades do Fleury já oferecem o chamado “check-up pós-Covid”, uma bateria de bateria de exames para acompanhar a saúde de quem foi acometido pelo novo coronavírus.
“Neste trimestre, a gente lançou o check-up pós-Covid. Até 20% dos pacientes que tiveram Covid ficam com sequelas respiratórias, neurológicas, cardiovasculares, e podem necessitar de outros cuidados com a saúde”, afirmou Tsutsui.
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A estratégia do grupo foca na oferta de novos serviços, como sua plataforma digital de saúde (a+ Medicina Diagnóstica) e o atendimento móvel (equipe vai ao domicílio do paciente), que apresentou crescimento pelo 6º trimestre consecutivo, com ganhos de 0,5%, representando 7,3% da receita bruta.
“Temos também um novo aspecto, que é o crescimento nas novas avenidas. Temos falado em novos serviços, plataforma de saúde, oftalmologia, ortopedia. Neste trimestre, esses novos serviços além da medicina diagnóstica representaram 7,8% da receita. Se você for ver o trimestre passado, era 4%, mostrando que a gente tem uma avenida de crescimento de crescimento com relação a esses novos elos. E mais importante: a gente cresceu do segundo para o terceiro trimestre, e melhorou a margem Ebitda também”, comentou a CEO.
Em nove meses, o grupo reportou um Ebitda recorrente de R$ 835,4 milhões (+54,9%) com margem recorrente de 29,3%. Já a margem líquida ajustada subiu de 5,7% (nove meses de 2020) para 10,8% (mesmo período de 2021). “Não é nenhum guidance, mas a gente deve terminar o ano com uma margem igual ao do ano passado”, diz Tsutsui.
Ela alerta que as comparações entre os dados do terceiro trimestre deste ano e o de 2020 mostram uma distorção na análise do seu resultado financeiro, uma vez que a demanda estava represada no 2º trimestre do ano passado (quando reportou um prejuízo de R$ 73,3 milhões) devido às restrições do início da pandemia, o que provocou uma alavancagem operacional no 3º trimestre seguinte, ou seja, o grupo teve uma retorno rápido de receita entre julho e setembro de 2020, quando recuperou volume de vendas, renegociou aluguéis de suas unidades, voltando ao azul.
Aquisições
Outro destaque do Fleury no terceiro trimestre foi a conclusão de operações de M&A (fusões e aquisições), que elevaram a relação entre endividamento líquido e geração de caixa (Ebitda) de 1.1 x (segundo trimestre) para 1.3 x (terceiro trimestre). O CFO do grupo, José Antonio de Almeida Filippo, diz que isso se deve ao desembolso de quase R$ 300 milhões para o fechamento das aquisições no Espírito Santo (Pretti e Bioclínico). “Subiu um pouquinho, mas está em um nível baixo, bem saudável”, disse Filippo, que participou da entrevista de Bloomberg Línea com a CEO.
A dívida bruta do Fleury apresentou crescimento de 21,6% no trimestre na comparação anual, em função da 6ª emissão de debêntures, concluída em julho. Foi a primeira emissão de debêntures com metas atreladas ao desempenho ESG, no valor de R$ 1 bilhão, sendo a primeira série de R$ 250 milhões, a segunda de R$ 375 milhões e a terceira de R$ 375 milhões, com vencimentos em julho de 2025, 2026 e 2028, respectivamente. “Melhoramos o perfil da dívida, que está mais distribuída e mais longa”, afirmou o CFO.
Já a dívida líquida cresceu 75,1% na base anual, refletindo o menor saldo de caixa, em função do pagamento de R$ 293 milhões das aquisições de Pretti e Bioclínico, realizado no trimestre.
Novas unidades
No último dia 18, o grupo anunciou a aquisição do Laboratório Marcelo Magalhães, referência em medicina diagnóstica e análises clínicas em Pernambuco. O valor de avaliação dos ativos foi de R$ 384,5 milhões. O negócio, considerado pela companhia decisivo para ampliar a presença no Nordeste e capturar sinergias, ainda depende do aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Neste ano, o Fleury também comprou a Clínica de Olhos Moacir Cunha e o Centro de Infusões Pacaembu, além da Clínica Vita, que passa a ser a partir deste trimestre.
Graças a essas aquisições, o grupo de medicina diagnóstica tem eliminado a sobreposição de unidades de atuação. A CEO do Fleury cita, por exemplo, o caso do Rio de Janeiro, onde adquiriu em 2018 a rede de laboratórios de análises clínicas Lafe, com 32 unidades. “No Rio, a gente tinha um plano de abir novas unidades. Mas com a aquisição do Lafe, não faz mais sentir abrir novas unidades nesse local”, diz Tsutsui.
Essa situação fez o grupo suspender seu guidance de abertura de unidades de forma orgânica. Em 2016, o plano do grupo era a abertura de 73 a 90 unidades físicas de atendimento entre 2017 e 2021. Até agora, foram 55 pontos inaugurados, 25% menos do que o número mínimo antes planejado. O avanço do atendimento móvel na participação da receita da companhia também é citado como um motivo para desistir de abrir novas unidades.
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