Bloomberg — A ideia de privatizar a Petrobras que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiu agregar ao discurso do presidente não vai resolver o problema que Jair Bolsonaro realmente quer atacar quando toca no assunto: a alta nos preços dos combustíveis no país.
Segundo um integrante do governo, levar a empresa ao novo mercado, como quer Guedes, será certamente bom para a estatal, que terá ações mais valiosas e uma melhoria de governança. Mas daí a resolver o que bate direto no bolso dos brasileiros vai um longo caminho. Passa por vender refinarias, o que leva tempo, costura política e boa vontade, todos itens em falta no momento.
Credibilidade
A ideia defendida por Guedes é que a venda das ações que o BNDES tem na Petrobras ajudará na redução da relação dívida/PIB, o que é um passo para melhorar a deteriorada imagem da política fiscal. Segundo um interlocutor da Economia, o grau dessa crise é tal que retirar R$ 30 bilhões ou R$ 40 bilhões do teto de gastos para financiar o novo programa social não mudariam o cenário.
De elefante a pulga
A ajuda financeira de R$ 400 para caminhoneiros a um custo de cerca de R$ 3 bilhões foi o que sobrou de uma tentativa do Ministério de Minas e Energia de lançar um programa de R$ 100 bilhões para subsidiar os preços de combustíveis no país.
A equipe econômica entrou em campo para convencer Bolsonaro de que não fazia sentido ter um programa sem foco, mas que daria para ajudar os caminhoneiros, grupo importante de apoio ao presidente, e que o valor deveria ser limitado aos R$ 400 que serão pagos novo programa social. O time considera que conseguiu transformar um elefante em uma pulga.
Veja mais: Imposto sobre combustíveis será congelado por 90 dias
Offshore
Algumas lideranças da Câmara não veem mais sentido em convocar Guedes para prestar esclarecimentos no plenário da casa sobre ser sócio de uma empresa offshore. Acreditam que, com a revisão do teto de gastos, o recado que tinham que dar e o desgaste que queriam impor ao ministro já ocorreram.
Isso, no entanto, não significa reduzir os ataques ao Ministério da Economia. Parlamentares afirmam ter apresentado a investidores ideias de financiamento do programa Auxílio Brasil sem necessidade de mexer no teto. Dizem que não chegaram a levar a proposta ao Ministério da Economia porque não têm interlocutores na pasta.
PEC Frankenstein
Apesar de o governo oficialmente continuar insistindo na PEC dos precatórios, Bolsonaro tem ouvido de aliados que o melhor caminho é abrir mão da emenda constitucional. O argumento é que o texto ficou complexo demais, virou um verdadeiro Frankenstein e o furo ao teto de gastos pode acabar servindo não apenas para atender o programa social, mas também para gastos parlamentares que afundariam ainda mais a situação fiscal do país.
Mais da metade do espaço aberto com o texto serviria para pagar emendas e a campanha do próximo ano. O entorno do presidente que já deixou a PEC de lado inclui inclusive o ministro da Cidadania, João Roma, que nem mesmo defendeu a proposta em reunião de líderes na última quarta-feira (27).
Tweets da semana
Veja mais em bloomberg.com
©2021 Bloomberg L.P.