Bloomberg — Com o custo de vida em alta no mundo todo, governos não contam apenas com bancos centrais para a tarefa de frear a inflação e buscam outras maneiras de responder à alta dos preços. Há um longo histórico de outras políticas destinadas a reduzir os preços. Muitas delas - além de algumas novas - estão sendo retomadas agora, como a força-tarefa da cadeia de suprimentos do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, subsídios de energia na Europa e controles na Argentina.
Duas regras fundamentais têm guiado o modelo econômico ortodoxo nas últimas décadas: os preços devem ser determinados pelo livre mercado e administrar a inflação é um trabalho para a política monetária. Mas as pressões de preços provocadas pela pandemia este ano - após o estímulo recorde de governos e bancos centrais que sustentaram a demanda global - obscurecem a questão.
Por um lado, não está claro como o aumento dos juros - como muitos países já estão fazendo - pode abordar as causas da inflação pandêmica no lado da oferta, como atrasos no transporte ou escassez de matérias-primas e mão de obra.
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Por outro, do ponto de vista das políticas, pode ser tarde demais. Economistas geralmente calculam que são necessários pelo menos seis meses para que uma política monetária mais apertada surta efeito, reduzindo a demanda. Portanto, mesmo que o Federal Reserve aumente os juros no fim de 2022 - com um impacto sentido em algum momento de 2023 - isso não alivia a pressão sobre políticos como Biden para atuar antes.
Pesquisas dos EUA ao Reino Unido mostraram que eleitores começam a ficar preocupados com a alta dos preços. De forma mais ampla, a pandemia reacendeu o debate sobre o papel dos governos na economia, e a inflação é parte dessa discussão. A visão predominante é que deixar os mercados livres seria a maneira mais eficiente de entregar produtos baratos. Mas a crise da cadeia de suprimentos este ano levantou questões se a busca por eficiência e preços baixos veio às custas da estabilidade ou mesmo da segurança nacional.
Subsídios de energia
O aumento dos preços da energia é um dos maiores componentes da inflação pandêmica, e governos estão intervindo para amortecer o golpe. A questão provavelmente será destaque na reunião deste fim de semana de líderes do G20.
A França planeja um subsídio temporário de 100 euros para pessoas de baixa renda. A Espanha prometeu medidas para reduzir as contas de luz das famílias e está cobrando um imposto sobre os ganhos extras de algumas concessionárias de energia, embora tenha evitado impor uma taxa mais ampla. O Quênia recorreu a um fundo de estabilização para baixar os preços na bomba e também cortou o imposto sobre a gasolina que arrecada dinheiro para o fundo.
Subsídios como esses não são vistos por economistas como anti-inflacionários, pois não cortam os custos, apenas os dividem de forma diferente. Mas reduzem o aumento imediato nas despesas de subsistência, que é o que a inflação representa para a maioria dos não economistas. Na América Latina, um preço particularmente sensível para políticos é o gás liquefeito de petróleo, especialmente o gás de cozinha usado por famílias mais pobres.
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O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, está criando uma estatal de distribuição que venderá o combustível “a um preço justo”, e seu governo impôs limites de preço em algumas regiões. No Brasil, o Senado aprovou um programa de subsídios para ajudar cerca de 11 milhões de famílias a comprar gás de cozinha, parcialmente financiado por dividendos recebidos da Petrobras.
Preços dos alimentos
Especialmente em países de baixa renda, os crescentes preços dos alimentos podem desencadear uma crise social. Neste ano, o aumento foi o mais rápido em uma década.
Alguns países buscam aumentar a oferta. O banco central da Nigéria tem apoiado agricultores com empréstimos a juros baixos para que possam aumentar a produção. A Rússia, maior exportadora de trigo do mundo, tenta melhorar a produtividade nas fazendas, mas reconhece que isso levará tempo. Por isso, tem restringido as exportações para garantir grãos suficientes no mercado doméstico. As medidas incluem uma tarifa de exportação que é ajustada todas as semanas.
Controles de preço
A Argentina tem um longo histórico de políticas heterodoxas para controlar os preços e consistentemente uma das taxas de inflação mais altas do mundo, sugerindo que essas medidas não funcionaram. Ainda assim, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, implementou algumas das medidas mais drásticas para manter o custo de vida baixo. Este mês, anunciou um congelamento de preços para mais de 1.400 itens domésticos até depois do Natal, após suspender as negociações com a indústria para um acordo. Também ordenou que empresas produzam a plena capacidade.
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