Bolsonaro critica ‘lucro alto’ da Petrobras, antes da divulgação do balanço

Após live do presidente, as ADRs da companhia caíram nos EUA. Maior acionista, governo deve receber ao menos R$ 23 bi em dividendos

Minutos antes da Petrobras anunciar uma distribuição recorde de pagamento de dividendos a seus acionistas (R$ 31,8 bilhões adicionais, elevando o total para R$ 63,4 bilhões), o presidente Jair Bolsonaro usou a sua live desta quinta-feira para criticar o “lucro muito alto” da petroleira, afirmar que empresa tem que ter um “viés social” e prometer que vai tentar desatrelar o preço dos combustíveis ao dólar.

A fala do presidente, minutos antes da divulgação do balanço, mexeu com o mercado, no exterior,imediatamente: as ADRs da companhia, negociadas nos Estados Unidos, chegaram a cair 3,88%. Depois, a queda atenuou para 0,85%.

Veja mais: Lucro da Petrobras supera expectativa com reajuste de combustíveis

Na prática, o anúncio do lucro recorde e dos pagamentos de dividendos, que deveria fazer o preço das ações subirem pela lógica de mercado, acabou intensificando a crítica política contra a estatal. Maior acionista, a União deverá receber, ao menos, R$ 23 bilhões em dividendos da estatal este ano.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Candidato à reeleição em 2022, o presidente tem visto sua popularidade cair nos últimos meses. Um dos fatores de desgaste é a escalada da inflação, cujo vetores principais têm sido alimentos, energia elétrica e combustíveis.

O IPCA, principal índice oficial, alcançou 10,25% no acumulado de 12 meses. No ano, os preços do diesel e da gasolina subiram 65% e 71% na refinaria, respectivamente.

Veja mais: Petrobras aprova pagamento adicional de remuneração aos acionistas

Bolsonaro, que tem culpado o ICMS cobrado pelos Estados pelo aumento da gasolina, hoje adotou o tom mais incisivo até agora contra a política de preços da Petrobras e, novidade, contra o lucro “muito alto”.

O QUE O PRESIDENTE DISSE EXATAMENTE: “Não é justo: você vive num país que paga tudo em real, um país praticamente autossuficiente em petróleo e tem o preço do seu combustível aqui atrelado ao dólar. Realmente ninguém entende isso”, criticou o presidente.

“Se é uma empresa que exerce monopólio, tem que ter seu viés social, no bom sentido”, continuou.

“Carecemos de mudanças de legislação, que passa pelo Parlamento. Ninguém vai quebrar contratos”, afirmou. “Petrobras é obrigada a aumentar o preço porque ela tem que seguir a legislação e nós estamos tentando aqui buscar uma maneira de mudar a lei nesse sentido”.

“Repito, ninguém vai quebrar contrato, ninguém vai inventar nada, mas tem que ser uma empresa que dê um lucro não muito alto como tem dado”, disse.

POLÍTICA DE PREÇOS DA PETROBRAS NÃO DEPENDE DE LEI: Na verdade, a política de preços da Petrobras, estabelecida ainda na gestão Michel Temer, leva em conta tanto o valor internacional do barril de petróleo quanto o câmbio do dólar. Não se trata de uma lei votada pelo Congresso, mas uma decisão da companhia, que tem na União o seu principal acionista.

Embora o Brasil seja exportador de petróleo bruto, o país não refina a quantidade suficiente para a demanda da população importador de grande parte dos combustíveis vendidos à população – que têm o preço em dólar.

Leia também:

O que é o metaverso, a nova aposta do facebook

Apple decepciona expectativas de receita por crise de suprimentos