Mercado espera Copom mais duro com revés do teto e inflação alta

Operadores do mercado de juros futuros apostam em alta ainda maior, de até 2pp, após a revisão do teto de gastos e do IPCA-15 de outubro acima do esperado

Banco Central de Brasil
Por Josue Leonel e Marisa Castellani
27 de Outubro, 2021 | 01:58 PM

Bloomberg — O Copom deve elevar a Selic, hoje em 6,25%, pela 6ª vez seguida nesta quarta-feira (27) e acelerar o ritmo de alta de 1 ponto percentual para 1,5pp, segundo economistas, no que pode ser o maior aumento em duas décadas. Operadores do mercado de juros futuros apostam em alta ainda maior, de até 2pp, após a revisão do teto de gastos e do IPCA-15 de outubro acima do esperado, contrariando a ideia de um pico em setembro.

Bancos como o JPMorgan, Credit Suisse, BTG, Barclays e o UBS revisaram suas projeções para alta maior da Selic desde que a mudança do teto de gastos deteriorou as expectativas inflacionárias e pressionou o câmbio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o BC não pode ficar atrás da curva no combate à inflação.

Analistas acreditam que o BC também deve endurecer o tom do comunicado. Os principais pontos a serem observados são eventual sinalização do ritmo para a reunião seguinte, piora da avaliação do cenário fiscal e compromisso de convergência para a meta em 2022.

  

Veja o que dizem os analistas:

Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, do JPMorgan

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  • Já haviam revisado a projeção de 1 pp para 1,25 pp na semana passada, para logo depois subirem novamente a 1,5 pp nesta semana
  • Comunicado deve apontar para pelo menos outra alta da mesma magnitude em dezembro, seguida por mais duas altas de 1pp em 2022
  • O fracasso em restaurar a confiança sobre as perspectivas de política de médio prazo deve levar a uma resposta mais agressiva do BC

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • BC deve acelerar o ritmo de alta da Selic para 1,5pp
  • Banco também vê probabilidade de 20% de aumento entre 1,75 pp e 2,0 pp
  • "Em um cenário de intensas pressões inflacionárias e piora do balanço de riscos, a probabilidade de o BC conseguir levar a inflação para a meta de 3,50% em 2022 é baixa"

Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú

  • Reitera previsão de alta de 1,5pp da Selic mesmo após IPCA-15
  • Ritmo é suficientemente forte diante da maior incerteza fiscal e pressões inflacionárias

Solange Srour e Lucas Vilela, economistas do Credit Suisse

  • Banco elevou expectativa de alta de Selic de 1,25 pp para 1,5pp, depois de já ter feito ajuste para cima na semana passada
  • Vê Selic a 11,5% em 2022
  • IPCA-15 mostra "dinâmica muito desfavorável"
  • "Taxas neutras mais elevadas provocadas pelo enfraquecimento do quadro fiscal e pior balanço de riscos para a inflação farão com que o BC eleve a Selic mais rápido e para uma taxa terminal mais alta para limitar o aumento das expectativas de inflação"

Roberto Secemski, economista do Barclays

  • Vê riscos de alta em sua projeção de aumento da Selic de 1,50 pp nesta quarta
  • Na sexta-feira, havia revisado projeção de 1pp para 1,5pb
  • Revisão foi em resposta à deterioração do balanço assimétrico de riscos para a inflação devido aos desdobramentos políticos da semana passada que culminaram no enfraquecimento da única âncora fiscal

Leonardo Porto, Paulo Lopes e Thais Ortega, economistas do Citigroup

  • Prevêem alta de 1,5pp nas próximas duas reuniões, elevando taxa a 9,25% até dezembro e até 11% em março de 2022
  • Revisão do teto de gastos implica um afrouxamento da política fiscal e fere sua credibilidade como âncora fiscal
  • Pressões inflacionárias são mais generalizadas e persistentes

Sergio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença

  • "IPCA-15 foi a pá de cal", com abertura "bem ruim", o que se soma à mudança do regime fiscal e à forte piora das expectativas de inflação e das implícitas
  • Copom não pode ficar "atrás da curva", sob o risco de perder credibilidade
  • Prevê alta de 1,5 pp, com o comunicado reconhecendo piora do balanço de riscos; não descarta aumento maior

Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra

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  • Cenário mais provável neste momento é alta 1,5 pp
  • Flexibilização da âncora fiscal, desancoragem das estimativas para inflação em 2023 e 2024 e a nova piora da qualidade da inflação observada no IPCA-15 tornam decisão do BC mais difícil
  • Vê comunicado mais duro, sinalizando alta na taxa de juros neutra pelo abandono da âncora fiscal

Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos

  • Revisou expectativa de alta de 1,25pp para 1,5pp
  • Serviços vieram pressionados no IPCA-15, reforçando alta mais agressiva da Selic

João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos

  • Mudou estimativa de alta de 1,25 pp para 1,50 pp
  • Além dos acontecimentos da semana passada, a perspectiva é de que a inflação permaneça elevada até o ano que vem, ameaçando o cumprimento da meta, e nesse cenário, o BC terá de ser mais tempestivo

Patricia Pereira, estrategista-chefe da Mag Investimentos

  • Prevê alta de 1,25 pp da Selic e não descarta 1,5 pp
  • Existem dúvidas sobre se BC continuará achando crível entregar a inflação na meta em 2022

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