BC acelera aperto, leva Selic para 7,75% e sinaliza mais alta nos juros

Comunicado da autoridade monetária indica que antevê outro aumento da mesma magnitude para a próxima reunião

Desde ontem (26), o aumento de 1,5 ponto base se tornou o ponto de partida dos investidores
27 de Outubro, 2021 | 06:38 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade acelerar o ritmo do aperto monetário e levou a Selic para 7,75%, maior patamar em quatro anos, diante da persistência da inflação e da deterioração do cenário fiscal depois que o governo admitiu romper o teto de gastos.

Foi a maior alta desde 2002 e o sexto aumento seguido da taxa básica de referência brasileira desde março deste ano, quando a autoridade monetária elevou os juros de 2% para 2,75%.

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A decisão vai ao encontro do cenário base do mercado, que esperava um aumento de 1,5 ponto base no piso dos juros brasileiros. Em meio a inflação alta, o comunicado da autoridade monetária sinalizou que antevê outro aumento da mesma magnitude para a próxima reunião.

O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista

O Comitê ressaltou que permanecem fatores de risco em ambas as direções em seu cenário básico para a inflação.

“Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.”

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Conforme o comunicado, “apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”.

Desde ontem (26), o aumento de 1,5 ponto base se tornou o ponto de partida dos investidores, depois que o IPCA-15 de outubro, prévia da inflação oficial, apresentou alta de 1,2% na primeira quinzena do mês, acima das expectativas, o que elevou a pressão sobre o comitê.

Há apenas duas semanas, os contratos de DIs sugeriam que os investidores esperavam que o Banco Central entregaria o aumento de 1 ponto percentual que havia apontado em sua última reunião. As ameaças constantes à estabilidade fiscal do país, principalmente no que tange o teto de gastos, tornou ainda maior a expectativa pela decisão de hoje (27).

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.

Toni Sciarretta

News director da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura diária de finanças, mercados e empresas abertas. Trabalhou no Valor Econômico e na Folha de S.Paulo. Foi bolsista do programa de jornalismo da Universidade de Michigan.