Bloomberg — O Banco Central acelerou o passo de alta da Selic para 1,5 ponto percentual, levando a taxa para 7,75%, e sinalizou outro aperto de mesma magnitude em dezembro em meio aos “recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal” que elevaram o risco de desancoragem das expectativas, conforme esperado por boa parte do mercado.
Alguns analistas, no entanto, consideraram o comunicado levemente dovish, tanto por dar o mesmo peso para 2022 e 2023 no horizonte relevante quanto à necessidade de uma linguagem mais dura para a inflação. Outros ainda viram avaliação menos incisiva sobre as recentes mudanças no teto de gastos.
Os juros futuros mais curtos devem ter ajuste de baixa, já que a precificação da curva indicava apostas em uma alta ainda mais forte. Já os contratos médios podem refletir a indicação de que os juros caminham para os dois dígitos no início do próximo ano.
Segundo o Copom, é apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance ainda mais no território contracionista”.
Veja o que dizem os analistas:
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- “É provável que seja necessário mais, mas o movimento de hoje é um passo decisivo na direção certa e muito necessário em meio à percepção de erosão da âncora fiscal”
- Foi levemente dovish, poderia ter entregado uma decisão para ancorar firmemente as expectativas
- Parece ser cedo para dar o mesmo peso para a inflação de 2022 e 2023; esse pode ser o motivo para não terem feito uma alta maior da Selic agora
- “Prepare-se para uma taxa Selic de dois dígitos no início de 2022″
Itaú, em relatório
- “Comunicado da reunião assinala acertadamente o aumento da incerteza da política fiscal e indica que uma maior volatilidade pode levar as autoridades a recalibrar sua postura”
- “Por enquanto, eles estão no modo de controle de danos total”
Gustavo Pessoa, sócio e gestor da Legacy Capital
- “Copom tomou a decisão correta. Não fazia sentido entregar mais que 1,5 pp, elevaria muito a incerteza e disfuncionalidade do mercado”
- “Com a decisão e o comprometimento de mais uma alta de 1,5 pp, o BC estará no caminho para elevar a Selic a 11%, o que parece ser suficiente para ancorar as expectativas”
- “Havia um receio muito grande no mercado de algo maior que 2 pp, BC colocou a bola no chão e vai ancorar as expectativas de um modo mais organizado”
Carlos Kawall, diretor do Asa Investments e ex-secretário do Tesouro
- “Tom surpreendeu com um viés mais dovish” e BC deve continuar atrás da curva
- BC poderia ter feito um aumento maior, com mensagem um pouco mais dura, como a de que “vai fazer o necessário”
- “O cenário de inflação está muito feio”
Gustavo Brotto, CIO da Greenbay Investimentos
- “Postura mais conservadora do Banco Central, respondendo às surpresas altistas de inflação e deterioração da política fiscal, certamente ajudarão a evitar uma piora nas expectativas de inflação”
- “Vértices curtos da curva de juros devem ceder, dada a precificação próxima de 1,75 pp de alta”
Rodrigo Cruz, sócio e gestor de renda fixa e moedas da Meraki
- Copom fez ajuste forte, ainda que parte do mercado esperasse mais
- Reconheceu deterioração fiscal e vê que terá de ir a território ainda mais contracionista
- “A expectativa de inflação de 2022 não está ancorada. Já está em 4,4% no Focus, acho que vai para 5% rápido entre as próximas duas semanas ou um mês. Tem de tomar cuidado para não desancorar 2023 também”
Carlos Menezes, sócio e gestor da Gauss Capital
- “Leitura é que BC veio com um tom ligeiramente mais dove do que o mercado esperava”
- “Foi pouco incisivo na questão da alteração no arcabouço fiscal, que acabou justificando alteração no ritmo”
Mariana Guarino, gestora de portfólio da Truxt Investimentos
- “Focus reagirá com menor compromisso do BC com a meta de 2022 e possível alongamento do horizonte de convergência”
- “Devemos ver alta nas expectativas de inflação para 2022 e anos subsequentes nas próximas semanas”
- “Tom menos duro que o esperado”
Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital
- Copom acertou “em tamanho e na mensagem”
- Tirou a referência no final sobre o juro real
- “Mercado estava exagerando na precificação, não faz sentido acelerar muito mais agora e gerar mais volatilidade ainda”
- “A curva curta deve ajustar, tem uns 20-30bps para fechar; deve ser neutro para câmbio e bolsa”
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
- Tom duro em relação à questão fiscal e sinalização correta de mais 1,50 pp na próxima reunião
- “Muito provavelmente estamos caminhando de fato para juros de dois dígitos no início do ano”
- Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores
- “É um ritmo de ajuste que ganhou tração, mas ainda assim é moderado”
- “Provavelmente vai para dois dígitos, mas não vai ficar muito distante do que alguns analistas dizem, de 11%. Na nossa conta vai para 10,75%”
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