Miami — A instabilidade política e econômica são constantes no Brasil, por isso é compreensível que as pessoas queiram tirar seu dinheiro do país e colocá-lo em um mercado mais estável, e os Estados Unidos tendem a ser os primeiros da lista. Hoje, a XP, a Avenue e o BTG Pactual competem pelo investidor brasileiro em Miami.
Mas, no passado, investir nos mercados financeiros dos EUA era limitado principalmente aos “ultrarricos” que trabalhavam com gestores de patrimônio e private bank de grandes bancos. Com o avanço da tecnologia e das plataformas de investimento habilitadas para tecnologia, como a XP e a Avenue, corretora com sede em Miami e com seu próprio aplicativo de investimento, mais pessoas podem investir no exterior.
Para esta matéria, a Bloomberg Línea conversou com Roberto Lee, fundador e CEO da Avenue, e com Rodolfo Bastos, diretor da XP International.
Lee está na área de investimentos há décadas e, anteriormente, fazia parte da equipe da XP no Brasil. Ele abriu uma corretora chamada Clear, que se fundiu com a XP, e permaneceu a bordo até que decidiu fundar a Avenue e seguir por conta própria.
“Atualmente, a Avenue atende a mais de 300 mil investidores e administra mais de R$ 5 bilhões”, disse Lee. “O que percebemos é que o mercado financeiro brasileiro é muito limitado para acomodar o interesse em investir. Os brasileiros saíram dos bancos tradicionais e migraram para corretoras independentes”, acrescentou.
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Lee acredita que o cliente de hoje deseja ter acesso direto às suas contas de investimento em vez de trabalhar com um intermediário.
“Acho que veremos no futuro uma transformação dessa forma tradicional de fazer negócios em uma abordagem mais avançada tecnologicamente e que também é escalonável”, disse.
As gerações mais jovens e aqueles com menos capital disponível tendem a estar mais interessados em uma abordagem “autodidata” para investir do que trabalhar com uma instituição.
“Originalmente, investir nos EUA era apresentado como uma forma de acessar riscos e diversificar sua carteira, mas agora as pessoas enxergam isso como uma forma de acessar investimentos estáveis”, disse Lee.
A XP, por outro lado, está nos EUA há anos, mas somente em 2019 teve um foco mais forte – e um investimento mais sólido – em clientes brasileiros. A XP tem escritórios em Nova York e Miami. Seu escritório em Nova York lida mais com investidor institucional, enquanto seu escritório em Miami – que abriga 30 banqueiros – trabalha diretamente com pessoas físicas. De acordo com Bastos, aquelas com investimento mínimo de US$ 500 mil. Mas tudo isso está prestes a mudar.
“Nos últimos dois anos, construímos uma base sólida com clientes de alto patrimônio líquido para que um dia pudéssemos expandir para outros clientes, que é o que está ocorrendo hoje. Hoje, você está vendo a expansão internacional oficial do XP, replicando exatamente o que fizemos no Brasil”, disse Bastos.
O que ele quis dizer é que agora a XP, por meio de seu aplicativo, também está pronta para competir com a Avenue por clientes brasileiros que também queiram investir nos EUA.
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Além de atender a clientes corporativos e institucionais, a XP também trabalha com family-offices e multi-family offices, e uma de suas próximas ambições é a expansão para a América Latina. Nesse caso, todas as informações no aplicativo serão traduzidas para inglês e espanhol.
No entanto, a Bloomberg Línea ficou curiosa para saber: por que agora?
“O cliente brasileiro percebeu que fora do Brasil ele tem 99,9% das oportunidades globais de investimento à sua disposição”, disse Bastos. “Quando existe uma marca brasileira forte e reconhecível, com tecnologia que proporciona transparência e com uma equipe qualificada, o cliente brasileiro se sente à vontade para dizer ‘ótimo, agora vou colocar meu patrimônio em 99% do que o mundo tem a me oferecer em termos de investimentos’”, acrescentou.
“E é por isso que acreditamos que este é o momento certo”, disse Bastos.
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