Bloomberg — A economia da China corre risco de desaceleração mais rápida do que a esperada por investidores globais diante das medidas do presidente Xi Jinping para reduzir a dependência do mercado imobiliário e regulamentar setores como educação e tecnologia, combinadas com a escassez de energia e a pandemia.
Bank of America e Citigroup estão entre os que alertam que a expansão pode ficar abaixo dos 8,2% previstos pelo consenso de economistas. A desaceleração pode durar até o ano que vem, o que empurraria o crescimento abaixo de 5%, alertam. Com exceção da expansão de 2,3% em 2020, seria o resultado mais fraco em três décadas.
Estrategistas do Bank of America acreditam que Xi pode até mesmo apoiar uma reestruturação da economia, que ocorre uma vez a cada duas décadas, semelhante às modernizações conduzidas por Deng Xiaoping no final da década de 1970 e reforma de estatais e do setor de finanças liderada por Zhu Rongji nos anos 90.
“Nesse caso, o fluxo de dados da China pode confundir até os pessimistas, e estamos atentos à evolução desse cenário”, disseram estrategistas liderados por Ajay Kapur em relatório a clientes na semana passada, no qual previam crescimento de 7,7% este ano e 4% em 2022.
O governo de Pequim está determinado a mudar seu modelo econômico em relação aos anos de expansão em que o país se endividou e se tornou a segunda maior economia do mundo.
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Xi agora lidera um plano para estabilizar o crescimento da dívida - a fim de aliviar os riscos financeiros -, reduzir a desigualdade e canalizar recursos financeiros para a manufatura de alta tecnologia, reduzindo a ameaça de restrições ao setor impostas pelos EUA.
Dados divulgados na semana passada mostraram forte desaceleração do crescimento para 4,9% no terceiro trimestre frente a 7,9% nos três meses anteriores. E mais obstáculos podem surgir no caminho com a persistente crise de energia e expectativa de aumento de casos de Covid-19 nos próximos dias.
Mesmo antes da pandemia, a China havia surpreendido economistas com crescimento mais lento do que o esperado, causado pela decisão do governo chinês de aliviar os riscos da dívida, o que significava evitar um amplo estímulo mesmo com a guerra comercial EUA-China ameaçando a expansão.
Após um modesto afrouxamento das políticas para amortecer os piores efeitos do coronavírus, o controle do endividamento foi retomado e empresas imobiliárias como China Evergrande foram as mais atingidas.
A desaceleração da China coincide com riscos à recuperação global do impacto da Covid-19.
“Quando o motor econômico da China falha, o crescimento fracassa no mundo todo”, disse Frederic Neumann, codiretor de pesquisa econômica asiática do HSBC, em Hong Kong.
Entre os mais vulneráveis à queda dos investimentos na China estão exportadores de commodities como Austrália, África do Sul e Brasil. O comércio mais lento também pode atingir países como Malásia, Singapura e Tailândia. O impacto pode ser sentido ainda mais longe, de acordo com Tuuli McCully, chefe de economia para Ásia-Pacífico no Scotiabank, em Singapura.
“Países como Chile e Peru enviam quantidades significativas de commodities para a China e sentirão o impacto do enfraquecimento do mercado imobiliário e de outras atividades de investimento em ativos fixos na China”, disse a economista.
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