China tem novo surto de Covid e revê estratégias

Embora o país asiático ainda seja capaz de reduzir as infecções transmitidas localmente a zero, o tempo livre de vírus está diminuindo

Tão contagiosa quanto a catapora, a variante delta está se mostrando um adversário mais difícil para a China
Por Bloomberg News
25 de Outubro, 2021 | 12:09 PM

Bloomberg — A China reduziu a zero os casos de Covid-19 por três vezes, nos últimos cinco meses, mas os surtos estão aumentando com mais frequência do que antes, levantando questões sobre até quando a nação pode dar continuidade a uma estratégia que a está deixando cada vez mais isolada.

Os intervalos entre os principais surtos na China caíram. No segundo semestre do ano passado era de cerca de dois meses, mas desde maio, caíram para menos de 12 dias , quando o país teve seus primeiros casos da variante delta. Embora a China ainda seja capaz de reduzir as infecções transmitidas localmente a zero, o tempo livre de vírus está diminuindo, é o que mostram os dados sobre casos diários compilados pela Bloomberg News.

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Existe hoje um confronto entre um regime de contenção, que é indiscutivelmente o mais abrangente do mundo - com fronteiras fechadas, testes em massa, rastreamento exaustivo de contatos e regras rígidas para viagens e deslocamentos - e um agente patogênico que está cada vez mais hábil em driblar as defesas desenvolvidas para interromper a transmissão.

Tão contagiosa quanto a catapora, a variante delta hoje representa um adversário astuto para a China, o último país do mundo a se comprometer totalmente com a estratégia Covid Zero, de eliminar todos os casos.

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O último surto se espalhou por 11 províncias e se infiltrou em Pequim, a capital fortemente controlada. As autoridades estão alertando que a situação pode piorar ainda mais, e fecharam uma cidade na fronteira com a Mongólia, que relatou o maior número de infecções nesta crise atual.

Depois que o surto inicial em Wuhan foi contido, a China conseguiu ficar até dois meses sem um grande surto local. Isso permitiu que a segunda maior economia do mundo mantivesse as fábricas funcionando, os consumidores gastando e os residentes viajando dentro de suas fronteiras. Foi o único grande país a apresentar crescimento econômico em 2020.

Mas contar com a mesma estratégia para sufocar a delta colocou em cheque a expansão neste ano.

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Bloqueios, suspensão de viagens aéreas e ferroviárias e outras medidas destinadas a conter a propagação da delta, que atingiu metade do país durante o verão, afetaram os gastos por parte dos consumidores. Os surtos subsequentes desde então continuaram a pesar sobre o sentimento do consumidor, gerando redução considerável na demanda e nas atividades de viagens durante o normalmente agitado feriado do Dia Nacional, no início deste mês.

Ainda assim, o governo e as autoridades de saúde não mostram sinais de recuo quanto ao compromisso Covid Zero, pelo menos não antes das Olimpíadas de Inverno, programadas para fevereiro.

Sem reabertura

Ao fortalecer o compromisso de eliminar as infecções, a China está indo contra uma tendência global, que vê na coexistência com o vírus e na dependência de vacinas para se proteger contra doenças graves, o cenário inevitável para a pandemia.

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Outros países da região, que buscaram implementar a abordagem Covid Zero, estão começando a mudar de posição. Singapura e Austrália estão afrouxando as quarentenas e a Nova Zelândia parece ter aceitado que seu último surto - também alimentado pela delta - provavelmente não poderá ser zerado. Todos traçaram planos para a reabertura ao mundo, que inclui a aceitação de que novos casos vieram para ficar.

A China até agora não demonstra interesse em compartilhar essa visão, e as autoridades ainda não articularam nenhum caminho alternativo para o futuro próximo.

Isso preocupa os investidores, disseram analistas da Natixis SA, em nota aos clientes no final de setembro. Embora a abordagem Covid Zero tenha sido bem sucedida em conter o vírus, ela torna a China “cada vez mais exposta a custos econômicos de longo prazo devido às incertezas quanto a saídas possíveis”, disseram os analistas.

“Essa incerteza está criando maior volatilidade e tem piorado o sentimento em torno de investimento nos últimos meses.”

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