Coreia vive conflito de gerações retratado em ‘Round 6′ e ′Parasita’

Chefs aspirantes e pequenos empresários estão por trás do aumento dos aluguéis e da transformação da região em campo de batalha entre gerações

Seul
Por Jeong-Ho Lee
23 de Outubro, 2021 | 09:54 AM

Bloomberg — Por décadas, o Mercado Central de Seul, com lojas acanhadas e barracas de comida, foi ponto de encontro de aposentados em busca de refeições, roupas e utensílios baratos.

Atualmente, eles disputam espaço com jovens descolados que frequentam restaurantes e cafés chiques. Chefs aspirantes e pequenos empresários — muitos dos quais optaram pela carreira solo após desistirem de empregos nos grandes conglomerados familiares da Coreia do Sul, como Samsung Electronics - estão por trás do aumento dos aluguéis e da transformação da região em campo de batalha entre gerações.

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Os mais velhos argumentam que os jovens estão relativamente bem graças ao trabalho árduo e frugalidade daqueles que impulsionaram a ascensão do país após a guerra. O outro lado culpa a geração anterior por tornar a casa própria um sonho impossível e colocar a sociedade em uma eterna disputa por poder e dinheiro, retratada em sucessos como a série “Round 6” e o filme “Parasita”, ganhador do Oscar.

A chamada geração MZ, formada pelos Millennials na casa dos 30 anos e a Geração Z com cerca de 20 anos, crê que as divisões sociais e econômicas estão piorando. Alguns MZs se consideram a “geração desistente” e chamam o país de “Inferno Joseon”, em referência à dinastia que reinou na península por meio milênio.

Clientes saem de um café no bairro de Sindang em Seul.

As lealdades tradicionais parecem estar se desgastando antes da eleição em março para substituir o presidente Moon Jae-in, de 68 anos. Seu mandato foi marcado por polêmicas diversas, incluindo o encarecimento dos aluguéis, o favoritismo institucionalizado, casos de assédio sexual de mulheres e serviço militar obrigatório para os homens. Tanto o Partido Democrata de esquerda de Moon quanto a oposição conservadora adotaram slogans populistas para conquistar os insatisfeitos.

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A Coreia do Sul tem 16,7% da população vivendo na pobreza, a quarta maior taxa entre os 38 países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A nação tem também a maior diferença salarial entre homens e mulheres, em 32,5%.

Os preços das residências na região metropolitana de Seul — onde vive metade da população de quase 52 milhões de habitantes — dobraram nos últimos cinco anos, se sobrepondo ao aumento de 20% nos salários. A taxa de desemprego geral está em cerca de 4%, porém é mais que o dobro disso para quem tem menos de 30 anos.

Essas tensões foram detalhadas em filmes como “Parasita”, que conta a história de membros de uma família pobre que tentam conquistar empregos em uma família rica exagerando suas qualificações e fingindo que não são parentes, e a série “Round 6”, que acompanha mais de 400 pessoas altamente endividadas que, para diversão de alguns super-ricos, disputam jogos mortais na esperança de ganhar uma fortuna.

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Eleitores mais jovens que ajudaram Moon a desbancar seu antecessor conservador Park Geun-hye em meio a um escândalo de corrupção estão mais frustrados, vendo que Moon não foi capaz de diminuir as disparidades. Moon é personagem emblemático da geração que fez faculdade na década de 1980, se rebelou contra o governo autoritário, trouxe eleições democráticas e passou a dominar a sociedade coreana.

O ex-ativista de direitos humanos prometeu erradicar as relações íntimas entre o governo e os poderosos conglomerados conhecidos como chaebols. No entanto, as reformas corporativas de Moon estagnaram e seu governo também foi alvo de escândalos de abuso de poder.

  

As controvérsias desgastaram o apoio que o Partido Democrata gozava entre os jovens, que passaram a se entusiasmar com a oposição de direita, rebatizada Partido do Poder Popular. Uma pesquisa da Realmeter divulgada na semana passada mostrou que o PPP tinha preferência dos sul-coreanos na faixa de 20 e 30 anos, como também da base tradicional de eleitores da faixa de 60 e 70 anos.

Propriedades ao redor do Mercado Central de Sindang. Os preços dos apartamentos em Seul dobraram nos últimos cinco anos

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