Bloomberg Línea — Logo depois da saída do presidente Jair Bolsonaro do auditório do Ministério da Economia, o ministro Paulo Guedes (Economia) demonstrou irritação com o Banco Central ao responder uma pergunta sobre a alta da inflação.
“O Banco Central tem que ficar de olho na inflação, sim. Quem cuida de inflação é Banco Central. E não pode ficar atrás da curva, não. Tem que correr, tem que mostrar serviço. Ele é independente para isso. Se a inflação está subindo, ele tem que correr um pouco mais rápido”, disse Paulo Guedes.
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A Selic, taxa básica de juros da economia, vem subindo este ano. Em setembro, a taxa foi a 6,25% ao ano – alta de um ponto percentual. O IPCA dos últimos 12 meses fechados em setembro ficou em 10,25%, alcançando dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016, auge da crise durante a gestão Dilma Rousseff.
A alta da inflação e a deterioração do ambiente fiscal levam muitos analistas de mercado a criticar o Banco Central por estar “atrás da curva” de juros. Nesta sexta (22), em meio às incertezas sobre a política fiscal do governo, o DI com vencimento para janeiro de 2023 avançou de 10,575% para 10,85%.
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Guedes vocalizou estas críticas, sem citar o nome do presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
“Quem tem que dar condições de sustentabilidade para ele trabalhar direito é o fiscal do governo. A minha obrigação é dar cobertura para ele. A dele é não deixar ficar atrás ficar atrás da curva. Tem que correr. Cada um tem que fazer sua parte”.
Há um forte componente político na discussão. A alta da inflação – principalmente dos alimentos e dos combustíveis – é vista pelo Palácio do Planalto como um dos vetores da impopularidade do presidente Jair Bolsonaro, que pretende disputar a reeleição no ano que vem.
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Hoje, ao demonstrar apoio a Guedes indo ao Ministério da Economia para a declaração pública sobre o Auxílio Brasil, o presidente Jair Bolsonaro disse que a razão de criar o novo programa, com pagamentos de R$ 400 mensais por família, para substituir o Bolsa Família se deve à insuficiência do Bolsa Família.
“Tem uma massa de pessoas que são os mais necessitados. São 16 milhões de pessoas, que estão no Bolsa Família, cujo ticket médio está em R$ 192. A gente vê esse valor como completamente insuficiente para o mínimo”, disse o presidente.
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