Bloomberg — O salto dos preços da energia aumenta as divisões na União Europeia, quando líderes nacionais se preparam para conversas acaloradas sobre como proteger os mais vulneráveis e evitar uma reação contra o ambicioso plano de mudança climática do bloco.
O aumento sem precedentes dos preços da energia e do gás é o primeiro tópico dos líderes da UE durante a cúpula de dois dias que começa quinta-feira em Bruxelas, mas a capacidade de ação do bloco é muito limitada. A maioria dos países já cortou impostos ou aprovou subsídios para ajudar famílias e empresas, e existem poucas ferramentas restantes que são tecnicamente possíveis e sem grande custo político.
Líderes da UE devem sinal verde aos planos de resgate imediato de governos nacionais e se comprometerão a “considerar rapidamente medidas de médio e longo prazo que garantam energia a um preço acessível para famílias e empresas”, de acordo com a versão mais recente do comunicado da cúpula visto pela Bloomberg News.
Mas esse passo não será suficiente para aliviar a crise atual e, nos bastidores, líderes discutirão se a energia nuclear e o gás devem ser tratados como verdes, a melhor maneira de reduzir as emissões e se devem mudar a forma como o mercado de eletricidade é regulado.
Portanto, embora a UE queira liderar a luta global contra a mudança climática e dar exemplo para outros grandes emissores, como os Estados Unidos e China, esta cúpula destacará o quão distantes países do bloco estão de um acordo sobre sua própria transição energética.
A crise atual piora a situação no curto prazo, colocando países do sul e do leste da Europa contra nações mais ricas do norte - e muitas vezes mais ambiciosas em medidas climáticas -, segundo as quais o aumento é temporário e não tem nada a ver com as políticas verdes europeias. A UE, com 27 nações, elevou sua meta de redução de gases de efeito estufa até 2030 para pelo menos 55% em relação aos níveis de 1990 e visa zerar as emissões líquidas até meados deste século.
Com as contas de luz sob o risco de aumentos de dois dígitos, os planos da UE de proibir novos carros movidos a combustíveis fósseis até 2035 e colocar um preço para o carbono usado no aquecimento doméstico são ainda mais difíceis de vender. A proposta da Comissão Europeia de estender o comércio de emissões aos combustíveis usados em aquecimento e transporte tornou-se o elemento mais criticado do pacote de julho para promulgar a nova meta climática.
A crise energética ocorre em meio à crescente demanda estimulada pela recuperação e à oferta limitada da Rússia e da Noruega, os dois maiores fornecedores de gás natural da Europa. O nível das reservas de gás do bloco está em 77% contra 72% há duas semanas, mas ainda no menor patamar em 10 anos, segundo nota vista pela Bloomberg News e que foi distribuída pela UE aos estados membros antes da reunião de ministros de Energia na semana que vem.
Três dias antes da cúpula, a Polônia pediu uma investigação sobre práticas abusivas da Gazprom, argumentando que o comportamento da exportadora de gás russa poderia ser uma tentativa de pressionar a UE para permitir a operação do gasoduto Nord Stream 2. A nova conexão de gás entre a Rússia e a Alemanha, que há muito tempo divide os estados membros, deve ser uma das muitas questões espinhosas da cúpula.
“A disparada dos preços do gás natural e da eletricidade, a queda da competitividade das indústrias europeias, o colapso das tradings de gás e a suspensão da produção em algumas fábricas europeias são um alerta para que a UE tome medidas tangíveis para evitar uma repetição da situação atual no futuro”, disse o ministro do Clima polonês Michal Kurtyka em carta vista pela Bloomberg News à comissária para a concorrência da Comissão Europeia, Margrethe Vestager.
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