Dúvida sobre Auxílio Brasil paira sobre o mercado

Também na newsletter: balanços corporativos assumem o protagonismo no noticiário, SpaceX alçará Elon Musk ao status de trilionário e base de assinantes da Netflix só faz disparar e surpreende analistas

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Bloomberg Línea — O teto de gastos – a regra constitucional que impede o crescimento real das despesas do governo federal até 2028 – terminou o dia intacto, mas sob forte incerteza porque continua em aberto a questão de como a União vai financiar os pagamentos para famílias mais vulneráveis.

O anúncio de um novo programa chegou a ser definido numa reunião na segunda-feira (18) entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros da ala política e Paulo Guedes na qual o titular da Economia ficou isolado.

  • O formato definido ontem, e que foi vazado nesta terça, foi de R$ 400 por mês – R$ 100 deles fora do teto – como um programa temporário. Os benefícios mais do que dobram o atual Bolsa Família. Pelo caráter temporário, isso permitiria ao governo não ter de apontar uma fonte de financiamento para o novo gasto – similar ao que ocorreu com o auxílio emergencial durante a pandemia.
  • A equipe econômica vinha combatendo essa proposta por entender que o correto seria a criação de um programa permanente, com financiamento claro – neste caso, com recursos da tributação de dividendos proposta na reforma tributária, que passou pela Câmara e está no Senado (onde tem dificuldades políticas de ser aprovada).
  • Outra fonte é a da limitação das despesas com precatórios em R$ 40,5 bilhões em 2022 (ante os R$ 89,1 bilhões previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias). A limitação dos precatórios é objeto de uma PEC enviada pelo governo ao Congresso.
  • A reação do mercado financeiro ao que seria uma nova despesa fora do teto de gastos fez o governo recuar do anúncio e deu sobrevida à tese de Guedes. O Ibovespa, que abriu o dia a 114.422 pontos, despencou a uma mínima 110.045 pontos às 16h15 de ontem (45 minutos antes do horário marcado para o anúncio do novo programa), fechando em 110.762, destoando do otimismo nos mercados externos. O dólar atingiu pico de R$ 5,61, terminando em R$ 5,58.
  • O novo programa social, com recursos maiores do os do Bolsa Família (que custa R$ 34 bilhões ao ano), tornou-se uma prioridade da agenda do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados do Centrão porque é considerado peça-chave para a reeleição do ano que vem.
  • Durante o dia, coube a Ciro Nogueira e João Roma (Cidadania) ir a Arthur Lira (PP-AL), mais poderoso aliado do presidente Bolsonaro, falar sobre o adiamento do anúncio do novo programa social. Segundo relatos, o presidente da Câmara ficou irritado com o recuo do governo e os ministros saíram do Congresso, sem citar valores do novo programa. O ministro Paulo Guedes não emitiu declarações sobre o assunto nesta terça.

Na trilha dos Mercados

Tudo indica que os favoráveis resultados empresariais roubarão a cena, mais uma vez, nos mercados internacionais. Depois de uma jornada positiva ontem, tanto as bolsas europeias como os futuros de Nova York engatilharam um movimento de alta nas primeiras horas da manhã, embora depois algumas começassem a trabalhar com volatilidade.

Ainda que o otimismo prevaleça no mercado financeiro por causa dos balanços, os analistas continuam atentos à perda de dinamismo econômico enunciada por alguns dados. Os indicadores tendem a refletir com maior intensidade o impacto dos problemas de abastecimento de matérias-primas e a crise energética, sobretudo com a chegada do inverno no hemisfério norte.

Um exemplo são os dados de construção tanto na Europa como nos Estados Unidos. Na zona do euro, as atividades do setor caíram 1,3% em agosto, comparativamente ao mês anterior.

Nos EUA, as casas iniciadas e as licenças de construção diminuíram, evidenciando também a escassez de mão-de-obra qualificada e os maiores custos dos materiais. A construção de novas casas caiu 1,6% para uma taxa anualizada de 1,555 milhão de unidades em setembro – o menor nível desde abril -, frente a uma expectativa de 1,615 milhão. Já as licenças de construção recuaram 7,7%, para 1,589 milhão, ante uma projeção de 1,680 milhão dos economistas. Trata-se do menor patamar desde setembro de 2020.

E a inflação?

Segue firme e forte no radar. Na agenda estão previstos indicadores de preços de vários países. Esta manhã conhecemos os dados do Reino Unido, cuja inflação superou pelo segundo mês consecutivo a meta do Banco da Inglaterra.

  • Os preços ao consumidor no Reino Unido subiram 3,1% em setembro, após um aumento de 3,2% no mês anterior, informou o Escritório de Estatísticas Nacionais hoje. O Banco da Inglaterra espera que os preços subam acima de 4% até o final do ano, mais que o dobro do esperado.
  • Os dados antecedem a reunião do banco central sobre as taxas de juros no mês que vem. Os analistas preveem que a autoridade monetária aumente o custo do dinheiro pela primeira vez desde a pandemia. Recentemente, o presidente do BOE, Andrew Bailey, disse que os legisladores devem agir para conter uma espiral de alta nos preços.

Na Ásia, as bolsas fecharam com resultados sem rumo definido. A crise de dívida das incorporadoras imobiliárias da China continua preocupando. O Sinic Holdings Group Co. foi o último a entrar em default e os detentores de bônus em dólar do China Evergrande ainda aguardam o pagamento de juros vencidos. Os preços das casas na China caíram pela primeira vez em seis anos.

Destaque para o bitcoin, que ontem assistiu ao lançamento do primeiro ETF (exchange-traded fund) de futuros de Bitcoin dos Estados Unidos. A criptomoeda registrou máximas históricas nas últimas sessões e hoje os investidores aproveitam para embolsas parte dos ganhos recentes.

No radar dos mercados

  • Federal Reserve divulga o Livro Bege hoje
  • Inflação no Reino Unido, na zona do euro e no Canadá, hoje
  • Preços industriais da Alemanha em setembro, hoje
  • Estoques de petróleo bruto divulgados pela Administração Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), hoje
  • Vendas de casas existentes dos EUA, pedidos de seguro desemprego, amanhã (21)
  • Preços imobiliários na China e taxas de juros dos empréstimos, hoje
  • O presidente do Fed, Jerome Powell, participa de painel de discussão de políticas, sexta-feira
  • Inflação no Japão na sexta-feira
  • O Comitê Permanente NPC da China se reúne novamente para revisar, entre outros temas, os regulamentos antimonopólio do país. A série de reuniões começou na terça-feira e se estende até 23 de outubro
  • Balanços serão acompanhados de perto, incluindo Tesla, Verizon Communications, Abbott Laboratories, NextEra Energy e IBM.
  • No Brasil, dados de conta corrente e investimento estrangeiro na sexta-feira

Importante saber

  • A Vale ampliou a produção de minério de ferro para 89,4 milhões de toneladas no terceiro trimestre deste ano, volume 67,7% superior ao registrado no trimestre imediatamente anterior e 0,8% maior do que o apurado no mesmo período de 2020.
  • A Netflix registrou seu maior crescimento de assinantes do ano, superando as estimativas de Wall Street graças à popularidade de “Round 6″, seu drama emergente da Coreia do Sul. A empresa adicionou 4,38 milhões de assinantes no terceiro trimestre, de acordo com divulgação nesta terça-feira (18), superando as projeções de 3,72 milhões.
  • Nesta terça-feira (19), o Flamengo realizou sua primeira oferta de Fan Tokens na plataforma Socios.com, limitada a 1,5 milhão de unidades. O sucesso foi instantâneo: em doze minutos, foram vendidos mais de 1 milhão de tokens, e antes do meio-dia -- menos de duas horas de negociação -- a oferta havia esgotado. A plataforma irá realizar uma nova oferta dos tokens, negociados sob o ticker $MENGO, no próximo dia 26.

Destaques da Bloomberg Línea

Opinião Bloomberg

Fabricantes de vacinas contra a Covid-19 dizem que estão produzindo 1,5 bilhão de doses por mês e terão produzido 12 bilhões de doses até o final do ano. Em teoria, isso seria suficiente para cumprir a meta da Organização Mundial da Saúde de vacinar 70% da população global. O desafio é garantir que essas vacinas cheguem onde são necessárias. A maior parte das doses que saem das linhas de produção parecem destinadas a países ricos, que em breve terão mais do que o suficiente.

Pra não ficar de fora

A Netflix registrou seu maior crescimento de assinantes do ano, superando as estimativas de Wall Street graças à popularidade de “Round 6″, seu drama emergente da Coreia do Sul.

A empresa adicionou 4,38 milhões de assinantes no terceiro trimestre, superando as projeções de 3,72 milhões. A Netflix espera alcançar 8,5 milhões de clientes nos últimos três meses de 2021, em comparação com as estimativas de Wall Street de 8,32 milhões.

A agenda lotada de programas de setembro mudou o curso do ano para a Netflix. O serviço agregou apenas 5,5 milhões de clientes nos primeiros seis meses de 2021, o mínimo desde 2013. Analistas temiam que a desaceleração se arrastasse depois que julho e agosto passassem sem o retorno dos programas populares. Mas as novas temporadas de “La Casa de Papel” e “Sex Education”, bem como “Round 6″, um programa sobre um concurso mortal, trouxeram milhões de novos clientes.