Com crise na Venezuela, ouro retorna como meio de pagamento

No sudoeste de Caracas, barbearias, restaurantes e hotéis exibem preços em gramas de ouro.

Funcionário inspeciona pedaços de ouro em Tumeremo
Por Alex Vasquez e Ezra Fieser
20 de Outubro, 2021 | 07:44 PM

Bloomberg — Para compreender a magnitude do colapso financeiro da Venezuela, viaje para o sudeste de Caracas, passando pelos campos de petróleo e pelo Rio Orinoco e avance para as profundezas da savana que cobre um dos cantos mais remotos do país.

Lá, barbearias, restaurantes e hotéis que constituem a faixa principal de um pequeno posto empoeirado após o outro, veremos os preços exibidos em gramas de ouro.

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Uma noite de estadia em um hotel vai custar meio grama. Almoço para dois em um restaurante chinês? Um quarto de grama. Um corte de cabelo? Um oitavo de grama, por favor.

Jorge Peña, de 20 anos, calculou que 1/8 de grama corresponde a três pequenas pepitas - o equivalente a US$ 5. Depois de cortar o cabelo em um dia de semana recente na cidade de Tumeremo, ele as entregou ao seu barbeiro, que, satisfeito com o cálculo de Peña, rapidamente as embolsou. “Você pode pagar tudo com ouro”, diz Peña.

Cliente coloca ouro embrulhado em uma nota de bolívar amassada em uma balança para pagamento em uma farmácia em Tumeremo,

Na economia global de alta tecnologia do século 21, onde os pagamentos por aproximação estão na moda, isso é o mais “low tech” possível.

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A maioria dos países deixou o ouro como meio de troca há mais de um século. O ressurgimento na Venezuela atualmente é a manifestação mais extrema de repúdio da população à moeda local, o bolívar. Depois de anos de interferência na economia pelo regime de Nicolás Maduro, o bolívar tornou-se quase inútil com a hiperinflação. Maduro acaba de cortar mais seis zeros da moeda neste mês.

Em seu lugar, o dólar se tornou a escolha de fato em Caracas e outras grandes cidades. Ao longo da fronteira ocidental com a Colômbia, o peso é a moeda dominante. É usada em mais de 90% das transações na maior cidade da região, San Cristóbal, de acordo com a empresa de pesquisas Ecoanalitica. Na fronteira sul com o Brasil, o real costuma ser a moeda preferida. O euro e criptomoedas também têm seus nichos em algumas partes do país.

“As pessoas simplesmente pararam de confiar no bolívar”, diz o economista Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis, em Caracas. “Não cumpria mais a sua função” como reserva de riqueza, meio de contabilidade ou de troca.

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Atualmente, apenas os venezuelanos mais pobres - aqueles que não têm acesso fácil a dólares ou outras moedas - ainda usam bolívares. “As pessoas preferem qualquer moeda em vez do bolívar”, diz León.

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