Bloomberg Línea — Uma luz amarela se acendeu entre os exportadores de carne suína do Brasil. O Ministério da Agricultura recebeu um pedido do governo chinês solicitando que as unidades de Santa Catarina habilitadas a vender para China passem por inspeção sanitária.
A data ainda não foi marcada, mas a ideia é que as vistorias aconteçam de forma virtual, como já realizadas ao longo da pandemia. Santa Catarina é o principal exportador de carne suína do Brasil e o maior fornecedor nacional para os chineses. O Estado possui sete unidades habilitadas a exportar para a China, sendo duas da Aurora (Chapecó e Joaçaba), duas da JBS (Itapiranga e São Miguel do Oeste), duas da Pamplona (Presidente Getúlio e Rio do Sul) e uma da BRF, em Campos Novos.
Procurado, o Ministério da Agricultura, mais uma vez, não retornou ao pedido de esclarecimento em relação às vistorias em Santa Catarina. Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que não comentaria o caso.
A demanda às indústrias de suínos ocorre em um momento considerado delicado na relação com a China. Os exportadores de carne bovina do Brasil ainda não foram autorizados a retomar os negócios com seu principal cliente, suspensos desde 4 de setembro por conta do auto-embargo às exportações imposto pelo Ministério da Agricultura, em decorrência da confirmação de dois casos atípicos de “vaca louca”, em cumprimento ao protocolo sanitário assinado com os chineses.
Fontes consideram que Pequim queira mandar um recado ao Brasil e não descartam a possibilidade que uma ou mais fábricas das sete habilitadas em Santa Catarina, deixe de fazer parte da lista ao término das inspeções. Contudo, vistorias às unidades exportadoras são relativamente comuns e consideradas, até certo ponto, esperadas pelas indústrias exportadoras.
Pelo menos duas fontes da indústria de suínos disseram estar tranquilos em relação aos aspectos sanitários e que não acreditam que a lista de empresas habilitadas será alterada. Uma delas lembrou que a China iniciou recentemente uma rodada de inspeções pelo mundo, já tendo passado por fornecedores de países europeus e que agora estaria chegando ao Brasil.
Contudo, a pressão sobre os exportadores de suínos do Brasil seria uma forma da China sinalizar que as exportações recordes de carne bovina em setembro, mesmo após o embargo, não soaram bem em Pequim. No mês passado, os frigoríficos brasileiros exportaram 191 mil toneladas de carne bovina, das quais mais de 112 mil foram para a China. Na prática, três de cada cinco quilos de carne exportadas em setembro tiveram os portos chineses como destino, mesmo com a existência do embargo.
Uma questão comercial
Ainda não se sabe qual será o destino das mais de 100 mil toneladas de carne bovina exportadas para a China em setembro e que já começaram a chegar aos portos chineses. Uma das saídas seria negociar diplomaticamente uma liberação, uma vez que, apesar de ter sido embarcada após 4 de setembro, a carne já tinha o certificado sanitário. Nesse caso, possivelmente os preços seriam renegociados.
Uma eventual retirada de uma das sete empresas de Santa Catarina da lista de unidades habilitadas também seria uma maneira de pressionar os preços da carne suína. A China é o maior consumidor de carne suína do mundo e tem enfrentado dificuldades em restabelecer sua produção doméstica após os casos de peste suína africana registrados desde 2018. Apenas em 2021 foram 11 novos. Com a necessidade de reduzir sua produção, a demanda por importações tem aumentado nos últimos três anos, fazendo com que os preços da carne suína disparassem.
Exportações em alta
As exportações brasileiras de carne suína totalizaram 112,2 mil toneladas em setembro, recorde mensal do setor. O número é 29,7% maior que o embarcado no mesmo período de 2020, com 86,5 mil toneladas, e supera a antiga marca mensal histórica alcançada pelo setor em março deste ano, de 109,2 mil toneladas. Segundo a ABPA, a China segue como principal destino das exportações da carne suína do Brasil, com 53,4 mil toneladas em setembro, volume 22% superior ao registrado no mesmo período de 2020. Em seguida estão Hong Kong, com 15,7 mil toneladas (+60,9%) e Chile, com 4,8 mil toneladas (+24,5%).