Buenos Aires — Natural de Fortaleza, Claudio da Cunha, o novato country manager da Enel Argentina, dona da Edesur, garante que, por trás da ideia de consenso entre empresários e sindicatos que o governo tanto difundiu nos últimos dias, há um certo quê de “política”, às vésperas das PASO (Primarias Abiertas, Simultáneas y Obligatorias, em espanhol – são as eleições primárias da Argentina), que ocorrem em novembro.
Durante sua estada como espectador do 57º Colóquio IDEA, ele não teve dúvidas de que “o grande problema da Argentina é a continuidade das coisas, que se reflete na instabilidade jurídica”, destacou em conversa com a Bloomberg Línea. “Eles sempre observam o que o governo anterior faz. As ideias devem ser mais ou menos as mesmas. A única maneira de construir estabilidade é um governo não destruir o que o outro fez antes”.
Com 15 mil funcionários e dois anos de tarifas congeladas, com um único reajuste de 9% neste ano, a preocupação na empresa é latente.
“A defasagem das tarifas é de 100% se considerarmos que temos uma inflação que, há dois anos, gira em torno de 50%. Além disso, surge a possibilidade de uma recomposição tarifária, é difícil fazer um programa; este deve ser feito de forma gradual e gradativa. O subsídio para o setor foi de US$ 140 bilhões – três vezes o valor da dívida com o FMI”, exemplificou.
O congelamento coloca em standby os investimento previstos em um ano normal. “Tentamos investir e manter esses desembolsos para que não se reflitam na qualidade do serviço. Mas isso tem um limite: as tarifas. O negócio de energia é muito intensivo em capital e exige muita mão de obra. Além disso, contamos com uma rede de 378 PMEs que trabalham e dependem de nós. Estamos em regime de emergência”.
Enquanto isso, a Edesur e a indústria aguardam a proposição do governo de um esquema de segmentação tarifária, embora o executivo acredite que só depois das eleições haverá algum tipo de resolução.
O que parece ter se afastado completamente são os rumores de estatização. “Eu não vejo isso e também não é uma solução. Acreditamos que essa ideia acabou”, concluiu.
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