Jive quer levantar R$ 7 bilhões para comprar ativos problemáticos

Cenário eleitoral polarizado esperado para 2022 leva maior gestora do segmento a preparar alocação de recursos

Gestora planeja oferecer hedge cambial para os estrangeiros.
Por Cristiane Lucchesi
18 de Outubro, 2021 | 08:23 AM

Bloomberg — A Jive, a maior gestora de ativos problemáticos do Brasil, planeja captar até R$ 7 bilhões no ano que vem para aproveitar as oportunidades de um ano eleitoral.

“Pode haver uma contração de crédito e menos apetite por Brasil entre os investidores internacionais, por isso queremos estar preparados para alocar muitos recursos neste cenário eleitoral”, disse Guilherme Ferreira, sócio da Jive, em entrevista.

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Uma eleição polarizada em outubro de 2022 entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode trazer volatilidade aos mercados, pressionando a taxa de câmbio e a inflação. O declínio na popularidade de Bolsonaro também está intensificando os riscos para os credores do governo, pois o presidente está tentando arranjar espaço no orçamento para programas de combate à pobreza.

O crescimento econômico mais lento pode ajudar a aumentar a quantidade de ativos problemáticos à venda, pois reduz a receita de empresas e indivíduos criando mais dificuldade para que eles paguem suas dívidas em dia, disse Ferreira. Os economistas preveem que o Produto Interno Bruto do Brasil crescerá 1,9% no próximo ano, abaixo dos 5,2% esperados para 2021, de acordo com as previsões compiladas pela Bloomberg.

A Jive, que vai captar seu novo grande fundo junto a investidores profissionais, planeja oferecer hedge cambial para os estrangeiros.

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O crédito total no sistema financeiro brasileiro atingiu R$ 4,3 trilhões em agosto, com taxas de inadimplência de cerca de 2,3%, de acordo com o Banco Central.

A Jive levantou seu terceiro grande fundo no ano passado, totalizando R$ 4 bilhões. O fundo, que foi distribuído exclusivamente pelo Credit Suisse, apresenta rentabilidade anual de 9%. Mas Ferreira disse que parte desse fundo já foi investida e muito mais será necessário para aproveitar as oportunidades esperadas no próximo ano.

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O primeiro fundo da Jive, de R$ 500 milhões captados em 2015, apresenta rentabilidade média anual de cerca de 21%, e o segundo fundo, que levantou R$ 1,75 bilhão, tem rentabilidade de 17% ao ano, segundo Ferreira.

Em junho, a XP, a maior corretora do Brasil, comprou uma participação minoritária na Jive, que tem R$ 8 bilhões sob gestão. Cerca de 20 dos clientes de private banking do Credit Suisse também adquiriram ações. A parceria permitirá que a Jive comece a oferecer investimentos menos complexos para as pessoas físicas clientes da XP, disse Ferreira, acrescentando que, como os investimentos são menos arriscados, eles também oferecem rendimentos mais baixos.

O plano é lançar três fundos para investidores pessoa física, arrecadando até R$ 900 milhões: um fundo imobiliário, um fundo de pensão de crédito e uma inovação total para o mercado brasileiro -- uma versão negociada em bolsa do FIDC, que compra recebíveis em uma transação semelhante a uma securitização.

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A aliança com a XP dá à Jive mais do que apenas poder de distribuição. A rede de 9.000 agentes autônomos da XP também pode trazer à Jive novas oportunidades de investimento em ativos problemáticos dos seus clientes pessoas físicas ou jurídicas, como por exemplo imóveis, crédito em atraso, obras de arte, participações em startups ou até mesmo direitos autorais.

A Jive investiu mais de R$ 3 bilhões nos últimos 18 meses, incluindo co-investimentos de clientes, e mais do que dobrou seu quadro de funcionários para 260. Ferreira disse que a empresa continuará contratando, e espera chegar a cerca de 350 funcionários até o fim do próximo ano.

O mercado secundário de precatórios é outro negócio no qual a Jive vê potencial de investimento crescente, com o governo federal tentando adiar os pagamentos de parte dos R$ 90 bilhões antes previstos para 2022.

“Há muitos estrangeiros com grande volume de precatórios nas mãos tentando sair, preocupados com o câmbio, questões fiscais e a possibilidade de parcelamento”, disse Ferreira.

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