Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — Entre 2013 e 2021, o percentual de brasileiros que usam redes sociais como fonte de informação saltou de 47% para 63%, segundo dados compilados na décima edição do Digital News Report, publicada, em agosto, pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford. O relatório aponta ainda que 82% dos brasileiros temem receber informações falsas e fake news, liderando o ranking global nesse quesito.
As redes sociais têm levado notícias e informações isoladas de forma mais dinâmica aos leitores, fazendo com que plataformas como o Twitter, por exemplo, sejam cada vez mais acessadas para se manter atualizado. Mas essa mesma facilidade para alcançar o consumidor abriu espaço para a disseminação de notícias e informações inverídicas, espalhadas por pessoas ou grupos de pessoas com o intuito de confundir. Robôs, conhecidos como bots, são usados nessa tentativa ao serem introduzidos nas redes como se fossem usuários reais, dando a falsa impressão de legitimidade ao interagir com o conteúdo veiculado. Nesse contexto, uma tecnologia conhecida dos entusiastas das criptomoedas pode ajudar no combate às notícias falsas: a blockchain.
“Seja na autenticação de conteúdo original tão logo ele seja produzido seja para permitir que diferentes mídias possam se coordenar e se organizar em relação ao tipo, às características, à relevância e até à reputação de determinado conteúdo, acredito na blockchain como forma de possibilitar a criação de uma infraestrutura de coordenação na luta contra a desinformação”, diz Edilson Osorio Junior, cientista computacional, especialista em segurança da informação e fundador da OriginalMy, plataforma especializada em registros em blockchain.
Embora a tecnologia blockchain seja geralmente vinculada à ideia de tokens e moedas digitais, Osorio defende uma estrutura eficaz na qual essas ferramentas não são necessárias. “Minimamente, essa infraestrutura blockchain faria o armazenamento de hashes e metadados necessários para validar uma informação”. Hashes são, de forma simplificada, códigos gerados após uma informação ser registrada em blockchain, enquanto metadados são indicações sobre dados – por exemplo, a fonte da informação, quando e por quem ela foi publicada.
Transparência e descentralização
O fundador da OriginalMy explica que as vantagens da blockchain no registro de dados jornalísticos são a transparência e a descentralização, características que tornam o processo de verificação de informações mais dinâmico e confiável, permitindo que diferentes redes e mídias interajam abertamente nesse sentido. Outro ponto positivo citado por Osorio são as DAOs, sigla em inglês para Organização Autônoma Descentralizada. Uma DAO não tem uma instituição ou grupo conhecido por trás, tendo seus caminhos ditados pelos membros da rede por meio de um sistema descentralizado de voto. Utilizar uma organização descentralizada para verificar a validade de informações significa que não haveria risco de conflito de interesses.
A OriginalMy oferece a solução PACWeb, que registra conteúdos em blockchain por meio de um plugin no navegador e foi a ferramenta que levou à criação de jurisprudência no Brasil sobre o uso de registro descentralizado para autenticar conteúdo. Para Osorio, a PACWeb é parte de uma solução blockchain para resolver o problema da desinformação. Outra solução da OriginalMy, a FactsMatter, também busca usar a PACWeb como um de seus instrumentos para combater as fake news no Brasil. Entretanto, sua fase de financiamento coletivo não teve muita aderência até o momento.
Ainda que a tecnologia blockchain ofereça diferentes possibilidades no combate às notícias mentirosas, ela é pouco explorada atualmente. É possível que a popularização das finanças descentralizadas e DAOs atraiam a atenção de mais pessoas, fazendo com que enxerguem a blockchain como solução para o problema das fake news.
Fora do ambiente da blockchain, ferramentas como o Bot Sentinel, plataforma capaz de identificar contas falsas no Twitter, foram desenvolvidas para combater as fake news. Também já existem associações, como o Trust Project – consórcio internacional formado pelas principais empresas da mídia, que ajuda as pessoas a identificar e avaliar a credibilidade das notícias, atuando assim no combate à difusão de informações mentirosas. No Brasil, o projeto tem a parceria do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e do Programa de Pós-graduação em Mídia e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp).