Vacina usada não explica diferença em total de mortes por Covid

Em alguns países as mortes pela doença caíram de forma mais acelerada do que em outros, um resultado para o qual os cientistas ainda não têm respostas

Não é apenas o tipo de vacina nem o alcance da vacinação que contam para reduzir o número de mortes
Por Jinshan Hong - Lisa Du e Yasufumi Saito
13 de Outubro, 2021 | 04:56 PM

Bloomberg — É um dos grandes quebra-cabeças da pandemia. A maioria das economias desenvolvidas agora mostra altas taxas de imunização completa com algumas das vacinas mais eficazes disponíveis. Então por que os recentes surtos de Covid-19 são mais mortais em alguns países do que em outros?

Embora esteja claro que as vacinas levaram a uma queda do número de óbitos durante as ondas mais recentes provocadas pela variante delta em comparação com surtos anteriores do coronavírus, em alguns países as mortes caíram de forma mais acelerada do que em outros, um resultado para o qual os cientistas ainda não têm respostas.

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Em países como Alemanha, Dinamarca e Reino Unido, as mortes por Covid caíram para cerca de um décimo dos picos anteriores, segundo cálculos da Bloomberg com base em dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. Em Israel, Grécia e Estados Unidos, os óbitos também diminuíram, mas ainda correspondem a mais da metade dos picos anteriores.

Países com altas taxas de vacinação veem diferenças nos resultados das ondas de Covid

Vários países - principalmente economias em desenvolvimento com sistemas de saúde com menos infraestrutura - se apoiaram em vacinas chinesas ou russas, que se mostraram menos eficazes do que imunizantes de RNA mensageiro usados nos Estados Unidos e na Europa. Esses países têm registrado aumento tanto de casos quanto de óbitos desde julho, quando a delta começou a se espalhar, em comparação com surtos que ocorreram antes que a vacinação em massa fosse uma opção.

Analisamos economias que vacinaram mais de 55% da população com imunizantes do Ocidente, como da Pfizer-BioNTech e AstraZeneca, que mostram taxas de eficácia de cerca de 60% a 90% contra casos sintomáticos da variante delta.

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Uma coisa é certa: não é apenas o tipo de vacina nem o alcance da vacinação que contam para reduzir o número de mortes.

“Existem muitos fatores além da vacinação que contribuem para resultados diferentes entre as localidades”, disse Natalie Dean, professora assistente de bioestatística na Universidade Emory. “Mesmo em locais com alto índice de vacinação, vemos que a delta pode causar aumento de casos. Mas vemos pressão no sistema de saúde? E, no final, acho que estamos vendo mais variabilidade nesse resultado também.”

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No entanto, não há garantia de que países onde as mortes se mantêm baixas até agora possam sustentar essa tendência. Mas há lições a serem aprendidas com a maior e mais ambiciosa campanha de vacinação global da história.

“Aprendemos mais no último ano e meio sobre imunologia humana e as respostas às vacinas humanas do que provavelmente aprendemos nas décadas anteriores”, disse John Wherry, diretor do Instituto de Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia.

Intervalos entre doses

Alguns dos países com taxas de mortalidade mais baixas ampliaram os intervalos entre as doses além do prazo de três a quatro semanas comumente usado ao redor do mundo. Polêmica na época, a decisão do Reino Unido em dezembro de permitir um intervalo de até 12 semanas entre as doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e Universidade de Oxford para que mais pessoas pudessem tomar a primeira injeção é agora validada por estudos científicos por oferecer maior proteção.

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Dinamarca e Alemanha também aprovaram prazos mais longos entre as vacinações, permitindo até 12 semanas entre as doses da AstraZeneca na Alemanha e seis semanas no caso da Pfizer-BioNTech na Dinamarca. O efeito combinado de duas doses parece ser mais potente quando a segunda é administrada depois que o sistema imunológico respondeu totalmente à primeira, algo que leva mais de um mês.

Recomendação de intervalo entre as doses varia entre os países

Lento e constante

Depois, há a interação complexa das campanhas de vacinação e a delta, altamente transmissível. Identificada pela primeira vez no ano passado na Índia, a variante devastou o segundo país mais populoso do mundo durante a primavera no hemisfério norte, antes de se infiltrar nas economias desenvolvidas em meados do ano.

Países com vacinação mais rápida, como Israel e EUA - antes invejados por suas campanhas - provavelmente tinham proteção mais fraca na época de propagação da delta por causa da redução da imunidade, disseram especialistas como Hitoshi Oshitani, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade Tohoku, no Japão. Pesquisas agora confirmam que, de dois grupos de pessoas expostas à delta, o que havia sido vacinado cinco meses antes teve uma taxa mais de 50% maior de infecções sintomáticas.

“Com o declínio da imunidade, quanto mais cedo iniciada a vacinação, mais reinfecções são detectadas”, disse Oshitani. “É provavelmente por isso que há um grande número de casos e mortes por população em Israel.”

Em contraste, as nações europeias que demoraram mais para iniciar suas campanhas de imunização distribuíram a maior parte das doses apenas na primavera, poucos meses antes de a delta começar a se espalhar no continente.

A imunidade da vacina já teria caído em alguns países quando a Delta chegou?

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