São Paulo — A pandemia impactou diretamente como as empresas administram seus fluxos de pagamentos e, diferentemente do que ocorreu na Europa, fez com que houvesse uma rolagem de dívidas. Pela primeira vez realizada no Brasil, uma pesquisa feita pela Intrum, líder no mercado de cobrança e gestão de crédito, mostra que 49% das companhias consultadas decidiram buscar a renegociação de suas dívidas com diferentes credores, sendo 25% de dívidas bancárias e 24% com fornecedores.
No Brasil, o setor público foi o que mais se beneficiou da extensão dos prazos. Negócios feitos com poder público, em média, demoravam 47 dias para serem quitados. Com a pandemia, os pagamentos passaram a ser feitos em dois meses, ou seja, 13 dias a mais do que o normal. No segmento B2B, os prazos foram ampliados em 11 dias e para os consumidores (B2C) os acréscimo foi de 8 dias.
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Na Europa, a diferença média entre o prazo combinado e o de recebimento caiu durante o último ano. Nos últimos 12 meses, a diferença média nos negócios feitos com o setor público e com outras empresas (B2B) caiu, respectivamente de 15 para 10 dias e de 14 para 11 dias, ao passo que aumentou nos negócios com consumidores, de 7 para 9 dias.
“A inadimplência ficou relativamente sob controle porque as empresas buscaram renegociar seus débitos e alongar os prazos de pagamento. Contudo, os fundamentos econômicos do Brasil fazem com que os holofotes se voltem para 2022, quando o país terá um grande volume de dívidas para administrar”, afirma Ulisses Rodrigues, CEO da Intrum Brasil.
E os dados da pesquisa apontam para esse cenário, uma que 63% se dizem mais preocupados do que nunca em relação à capacidade de pagamento de seus devedores pagarem em dia. Nos próximos 12 meses, 71% das empresas acreditam que os pagamentos irão atrasar ainda mais ou simplesmente não serão honrados. Apenas 9% apostam em uma melhora nessa situação, com uma queda no volume de atrasos.
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Entre os motivos para o não pagamento integral das dívidas por parte dos devedores aparecem nas três primeiras posições as dificuldades financeiras (54%), problemas com liquidez em decorrência da Covid-19 (51%) e disputas sobre bens e serviços entregues (34%). O famoso calote, onde o cliente intencionalmente ignora os termos do pagamento, aparece como motivo para 24% dos entrevistados.
No Brasil, 76% das empresas brasileiras acreditam que uma recessão econômica é iminente no país. Dessas, 88% antecipam que ela terá algum impacto negativo no negócio, proporção que aumenta entre as empresas do setor de consumo (95%) e imobiliário e construção civil (93%). Na Europa, 62% das empresas disseram que uma recessão é iminente em seus países.
“Diferentemente do que ocorria na Europa, o Brasil já vinha de uma sequência de crises e a pandemia trouxe uma preocupação ainda maior. Além disso, houve na Europa a tentativa de se equilibrar as forças e o menor prazo de pagamento por parte dos governos foi uma ação nesse sentido, diferentemente do que ocorreu no Brasil”, afirma Rodrigues.
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