Carrefour mais uma vez esbarra em desafios para consolidação

As negociações para unir a rede varejista listada em bolsa com a rival de capital fechado Auchan não foram em frente, segundo reportagem da Bloomberg

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Bloomberg — Tem sido um ano difícil para Alexandre Bompard. O objetivo do CEO do Carrefour para criar um líder em supermercados na França está cada vez mais distante.

As negociações para unir a rede varejista listada em bolsa com a rival de capital fechado Auchan não foram em frente, segundo reportagem da Bloomberg no fim de semana. Os dois lados discutiam uma fusão avaliada em 16,6 bilhões de euros (US$ 19 bilhões), que teria levado a família Mulliez, proprietária da Auchan, a ficar com uma participação majoritária em uma entidade combinada. As divergências sobre a estrutura do negócio se mostraram muito difíceis de superar, disseram pessoas a par da situação.

As negociações fracassaram menos de um ano depois que o Carrefour tentou vender as operações para a canadense Alimentation Couche-Tard. Essa transação esbarrou na oposição do governo, que interveio para evitar que um investidor estrangeiro comprasse o maior empregador privado da França, um ano antes das eleições presidenciais marcadas para abril de 2022.

Bompard, que coordenou a fusão da varejista de eletrônicos Darty com a rede de livros e eletrônicos Fnac, tenta impulsionar o preço das ações do Carrefour com recompras, melhor desempenho operacional no mercado doméstico, maior geração de fluxo de caixa livre e acordos de fusões e aquisições específicos. No entanto, desde que assumiu o cargo em julho de 2017, as ações da varejista se desvalorizaram mais de 25%.

Parte da dificuldade está no momento.

“O mercado de alimentos francês parece teoricamente maduro para a consolidação. Mas, na prática, não espere nenhum grande negócio dentro de 12 a 18 meses”, disse por e-mail Clement Genelot, analista da Bryan Garnier, acrescentando que “fusões entre iguais” são “muito complexas”, ao mesmo tempo em que as barreiras políticas permanecem elevadas antes das eleições do próximo ano.

Mercado lotado

A França é um mercado com muitos concorrentes, com pelo menos seis grandes players nacionais, ao lado das redes de desconto alemãs Lidl e Aldi e novas varejistas com foco online. Isso tornou a França altamente competitiva em termos de preço, e as margens de lucro são mínimas.

A Leclerc, que lidera o mercado, tem 22,7% de participação, seguida pelo Carrefour, com 19,7%. A Auchan ocupa o quinto lugar, com 9,2%, segundo dados da Kantar.

Outro obstáculo está no controle desses supermercados. “O fato de a França ser um mercado com grande participação de varejistas independentes” como Leclerc, Systeme U e Intermarché “não ajuda a desencadear uma consolidação”, acrescentou Genelot.

A França não é o único mercado europeu onde a consolidação interna entre supermercados se mostrou complicada. Em 2019, reguladores do Reino Unido bloquearam uma proposta de fusão entre a nº 2 J Sainsbury com a Asda, terceira maior varejista do país. Desde então, tanto a Asda quanto a operadora nº 4, a Wm Morrison Supermarkets, foram adquiridas por empresas de private equity.

Genelot espera que os acordos na França sejam mais fáceis após as eleições.

“A consolidação terá que se materializar em algum momento para pôr fim a uma deflação sem fim na França” e permitir investimentos em recursos online em meio à ameaça das plataformas digitais de supermercados, disse.

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