São Paulo — O clima sempre foi um dos fatores mais incertos e de difícil mensuração nas análises de riscos dos investidores interessados no agronegócio. Contudo, os eventos extremos identificados nos últimos anos, ilustrado pela seca da última safra que levou à queda da produção nacional de milho, já chamam a atenção tanto do setor produtivo quanto de quem aporta recursos nele.
Algumas das principais consultorias de investimento já estão sendo procuradas para avaliar alguns cenários. Da mesma forma que investidores demonstram pouco interesse em montar uma operação logística em Nova Orleans por conta dos frequentes furacões que ocorreram nos últimos anos, a mesma perspectiva começa a ser aplicada sobre o agronegócio.
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“As mudanças climáticas estão entrando na modelagem de negócio das empresas e dos investidores e muitos já estão repensando investimentos que seriam feitos levando em conta as condições normais do clima”, afirma Alexandre Rangel, líder do Centro de Excelência do Agronegócio da EY.
Estudo da consultoria, em fase final de compilação dos dados, revela que algumas culturas poderão se mover de uma região para outra e que novas pesquisas para se buscar variedades de mudas e sementes mais adaptadas serão necessárias. Por questões contratuais e de confidencialidade, Rangel não revela detalhes dos dados preliminares nem o contratante, mas admite que novos aspectos além dos logísticos, mercadológicos e de infraestrutura estão sendo adicionados nas análises.
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“Muitos produtores se questionam, hoje em dia, se não é o caso de comprar terras em outros locais, já que o tipo de cultura ao qual se dedicam está se deslocando de uma região para outra por causa das mudanças climáticas”, diz o consultor, ao lembrar que as consultas sobre o tema cresceram sensivelmente nos últimos 12 meses.
Ainda recente na memória do produtor está a safra de milho no ciclo 2020/21. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em setembro, apontou para uma colheita de 85,75 milhões de toneladas, 16% menor do que a registrada no ano anterior. Contudo, até abril deste ano, a Conab estimou uma safra de quase 109 milhões de toneladas. Em menos de seis meses, 23,2 milhões de toneladas desapareceram por conta de secas prolongadas, sequências de geadas e, em alguns casos, chuvas em excesso em momentos não adequados.
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Os efeitos climáticos extremos trouxeram efeitos evidentes sobre a produção de milho, mas o cereal não é o único. Culturas como café e laranja apresentarão seus efeitos na próxima colheita, quando as plantas poderão revelar o quanto foram impactadas pelas geadas de julho e agosto. No caso da cana, a expectativa é de uma produção pelo menos 10% menor em termos nacionais, com impacto sobre as safras das regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste.
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