Bloomberg — Lael Brainard, membro do conselho do Federal Reserve, afirmou que o banco central está trabalhando em duas frentes para lidar com os riscos climáticos no sistema financeiro e que, em breve, deve oferecer aos grandes bancos orientação de supervisão.
“A análise econômica sugere que a mudança climática pode ter consequências profundas para a atividade econômica, quanto ao ritmo, as tendências de crescimento e a variabilidade ao longo do tempo”, observou Brainard, em um texto apresentado em uma conferência de pesquisa sobre teste de estresse financeiro do Fed. “Acredito que será útil oferecer orientação de supervisão para grandes instituições bancárias em seus esforços para medir, monitorar e gerenciar adequadamente os riscos materiais relativos ao clima, seguindo o exemplo de vários outros países”.
Seus comentários representam um passo além da posição assumida pelo vice-presidente de supervisão do Fed, Randal Quarles, cujo mandato termina em 13 de outubro. Brainard é vista como uma potencial candidata para substituí-lo. Ela também recebeu apoio para ser a próxima presidente do Fed, por parte de alguns democratas, que não acham que o presidente Jerome Powell avançou o suficiente no combate às mudanças climáticas.
Como Brainard, Quarles falou sobre a necessidade urgente de melhores dados sobre como o aquecimento do planeta poderia prejudicar o sistema financeiro. Contudo, sendo ele o principal supervisor do Fed para os bancos de Wall Street, não progrediu muito além do reconhecimento de que mais estudos são necessários. Em maio, ele chamou isso de “risco emergente que estamos monitorando” e acrescentou que “política climática ampla é papel do Congresso e de outras agências federais, não do Federal Reserve”.
Abordagem em Duas Frentes
Powell tem sido mais franco sobre as mudanças climáticas do que o vice-presidente, e disse, na semana passada, que “nosso papel é garantir que as instituições financeiras que regulamos e supervisionamos entendam seus riscos e possam gerenciá-los”. A análise de cenário “quase certamente será uma das principais ferramentas para fazer exatamente isso”, acrescentou.
Ele fez uma distinção cuidadosa entre essa abordagem e os testes de estresse, observando que o conselho está nos estágios iniciais do trabalho. É provável que nem a análise de cenário nem a orientação tenham implicações imediatas para o capital dos bancos, uma vez que o Fed ainda está aprendendo sobre como as instituições e os mercados são afetados pelas mudanças climáticas.
Até o momento, foi o discurso de Brainard que trouxe mais detalhes sobre como o Fed está abordando a análise de cenário. Ela descreveu uma abordagem que aponta para duas vertentes, com uma unidade de estabilidade financeira que examina bancos, mercados e uma ampla gama de instituições financeiras para estudar relações complexas e impactos sistêmicos das mudanças climáticas. Há um outro subcomitê na unidade de supervisão, que está se envolvendo com bancos e outros reguladores.
Brainard destacou a questão do risco sistêmico de padrões climáticos que estão em constante mudança, dizendo que o trabalho de análise nos bancos deve examinar o quanto são dependentes de seguros e outras coberturas, o que pode ser uma vulnerabilidade quando essa cobertura é prejudicada por grandes eventos, como incêndios florestais e inundações.
Brainard também atrelou números concretos ao risco climático.
“O custo total dos desastres climáticos dos EUA nos últimos cinco anos excedeu US$ 630 bilhões, o que é um recorde”, afirmou. “O ano passado foi o sexto ano consecutivo em que os Estados Unidos sofreram desastres climáticos que geraram prejuízos de dez ou mais bilhões de dólares.”
Brainard é a governadora responsável pela unidade de estabilidade financeira do Fed e tem assento no comitê de supervisão do banco, liderado por Quarles, que foi nomeado por Trump. Ainda não se sabe se a Casa Branca nomeará imediatamente um substituto para Quarles.
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