Crise de energia na China já tem impacto global

Momento não poderia ser pior: a indústria naval já enfrenta linhas de abastecimento congestionadas, atrasando entregas de roupas e brinquedos para as festas de fim de ano

Contêineres no cais do porto de Tianjin em Tianjin, China
Por Jeff Sutherland e Tom Hancock
08 de Outubro, 2021 | 12:12 PM

Bloomberg — O impacto da crise energética da China começa a se espalhar pelo mundo, afetando empresas do setor automotivo como Toyota Motor, criadores de ovelhas australianos e fabricantes de caixas de papelão.

A escassez de eletricidade causada pelo aumento dos preços do carvão no maior exportador do mundo deve frear o próprio crescimento da China, e o impacto nas cadeias de suprimento pode prejudicar a economia global, que ainda tenta se recuperar dos efeitos da pandemia.

O momento não poderia ser pior, pois a indústria naval já enfrenta linhas de abastecimento congestionadas que têm atrasado as entregas de roupas e brinquedos para as festas de fim de ano. Também ocorre no momento em que a China inicia suas colheitas, o que poderia elevar muito as  despesas com alimentos.

“Se a escassez de eletricidade e os cortes de produção continuarem, podem se tornar mais um problema no lado da oferta global, especialmente se começarem a afetar a fabricação de produtos de exportação”, disse Louis Kuijs, economista sênior para a Ásia na Oxford Economics.

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Crescimento mais lento

Economistas já alertaram sobre a desaceleração do crescimento na China. No Citigroup, um índice de vulnerabilidade indica que exportadores de insumos para o setor manufatureiro da China, bem como de commodities, estão particularmente em risco devido ao enfraquecimento da economia chinesa. Vizinhos como Taiwan e Coreia do Sul são mais vulneráveis, assim como exportadores de metais como Austrália e Chile. Parceiros comerciais importantes, como Alemanha, também estão expostos até certo ponto.

Quanto aos consumidores globais, a questão é se fabricantes e varejistas absorverão os custos mais altos ou reajustarão os preços.

“Isso parece outro choque estagflacionário para a manufatura, não apenas para a China, mas para o mundo”, disse Craig Botham, economista-chefe para a China da Pantheon Macroeconomics. “Os aumentos de preços até agora têm uma base muito ampla - uma consequência do profundo envolvimento da China nas cadeias de suprimento globais.”

O governo de Pequim ordenou que as minas de carvão aumentem a produção e busca suprimentos de energia ao redor do mundo para tentar estabilizar a situação. O impacto na economia global dependerá da rapidez com que esses esforços darão resultados. Muitas fábricas chinesas reduziram a produção para o feriado da Semana Dourada esta semana, e economistas acompanham de perto se os cortes de energia retornarão com a retomada das operações.

Devido à forte resposta do governo chinês, “o pior desta crise de energia - mas não a crise inteira - pode acabar em breve”, disseram economistas do Société Générale em relatório na sexta-feira. Ainda assim, as restrições ao uso de energia em setores mais intensivos, como aço, alumínio e cimento, persistirão por meses, e a China continuará a importar gás natural em ritmo acelerado, aumentando as pressões sobre os preços globais, disseram.

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