Barcelona, Espanha — A crise no abastecimento de semicondutores e as incertezas propagadas pela pandemia parecem motivos fortes o bastante para congelar qualquer plano de expansão empresarial. Porém, é justamente neste cenário que o brasileiro Hidalgo Dal Colletto está realizando a maior de suas empreitadas, a internacionalização de sua fábrica de placas eletrônicas, com um investimento que começa nos 2,5 milhões de euros, mas pode alcançar os 15 milhões de euros.
A Standard America, sediada em Campinas, São Paulo, planeja para o final de maio a inauguração de sua fábrica STD Europe em Soure, Portugal. Do aporte de 2,5 milhões de euros, 68% foram financiados pela União Europeia através do projeto Portugal 2020. O restante virá de recursos próprios.
Até 2023, a empresa planeja gastar entre 2 e 3 milhões de euros adicionais na compra de novos equipamentos, com vistas a um aumento de 127% da capacidade produtiva. E está fazendo um road show para captar cerca de 10 milhões de euros de fundos privados.
A escassez da oferta semicondutores e demais componentes, que afeta desde a indústria eletrônica até o setor automotivo, vai atrasar a inauguração da filial portuguesa em quatro meses. Mas a conturbada situação do setor parece não abalar o executivo. “As crises pela pandemia e pela falta de suprimentos são um desafio importante, mas quando tudo melhorar eu já estarei pronto”, afirma o executivo brasileiro.
Com a STD Europe, a ideia de Dal Colletto é atender em Portugal empresas brasileiras interessadas em se aproximar de companhias europeias. Ele já tem acertos com empresas portuguesas e italianas para a montagem de placas eletrônicas e espera que a fábrica portuguesa represente aproximadamente 35% do faturamento do grupo. A expectativa é de que o faturamento da matriz brasileira cresça entre 12% e 18%, para R$ 30 milhões em 2021. “Com os estoques muito altos e a falta de componentes, daria para ter feito um belo faturamento este ano, mas tem coisas que fogem ao nosso controle.”
Segundo Dal Colletto, nos primeiros semestres o foco será a montagem de placas eletrônicas, o núcleo do negócio da Standard America, que fabrica placas para as indústrias automotiva, agrícola, aeronáutica e médica. Porém, a ideia é que em 2023 a empresa avance sobre outros mercados, como o de IoT, conceito relacionado com a interconexão via internet de objetos de uso cotidiano.
Mesmo com as incertezas geradas pela escassez de componentes, a expectativa é de que a nova fábrica fature em torno de 2 milhões de euros já no primeiro ano. A meta é criar entre 80 e 100 empregos diretos logo neste período, segundo Dal Colletto.
“Dos nossos clientes, 90% são brasileiros e 10% são de fora, sobretudo italianos e portugueses. Mas agora vamos procurar oportunidades de negócios no Leste Europeu e em outros países do continente, além dos Estados Unidos”, disse. Para criar um canal com os provedores de semicondutores na China, o grupo Standard América está abrindo um escritório de representação em Shenzhen. “A ideia é comprar com maior facilidade e conhecer in loco a tecnologia”.
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