Crise energética é novo obstáculo da meta de carvão da COP26

Com a escassez do gás e o decorrente aumento dos preços, países ainda podem depender do carvão por mais tempo que o planejado

Evento ocorrerá de 1º a 12 de novembro de 2021 em Glasgow, na Escócia
Por Chiara Albanese - Jennifer Epstein - Jessica Shankleman
02 de Outubro, 2021 | 06:40 PM

Bloomberg — Autoridades dos Estados Unidos e da Europa que pressionam por ações climáticas mais restritivas estão preocupadas que a crise energética que afeta a economia global também possa prejudicar as negociações cruciais das Nações Unidas no próximo mês.

Funcionários do governo, que falaram sob condição de anonimato, disseram que temem que o aperto nos mercados de energia, a alta dos preços e o ressurgimento do carvão possam limitar os esforços para reduzir as emissões quando 197 países se reunirem na conferência sobre mudança climática, conhecida como COP26, em Glasgow, na Escócia.

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O risco é que a alta do preço torne as economias emergentes – por exemplo, a Índia – mais relutantes em se desfazer do carvão porque isso ameaçaria a segurança energética, disseram três funcionários do governo. Embora países como o Reino Unido tenham tentado usar o gás como um “combustível intermediário”, à medida que mudam para opções de baixo carbono, o aumento dos preços torna essa opção menos viável – pelo menos por enquanto. A crise também ressaltou a volatilidade que pode acompanhar as energias renováveis.

Presidente da COP26

O presidente da COP26, Alok Sharma, estabeleceu como meta para a cúpula “consignar o carvão para a história”, a fim de limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais. Ele e o enviado presidencial especial dos EUA para o clima, John Kerry, têm pedido a países como China, Índia e África do Sul que acabem com sua dependência do combustível fóssil menos limpo. Até a Europa está queimando mais carvão – dificultando para os políticos da região advogarem sobre o assunto.

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Embora seja improvável que a conversa sobre a necessidade de mais gás chegue às autoridades que discutem as minúcias dos textos jurídicos, ela pode se infiltrar em reuniões bilaterais entre ministros, na cúpula dos líderes ou em coletivas de imprensa. Uma das autoridades disse que isso seria inútil para a continuidade da discussão sobre o fim dos combustíveis fósseis.

Demanda por carvão

A crise de abastecimento de energia está mostrando como seria difícil acabar com a dependência dos combustíveis fósseis. A China está impulsionando a demanda por carvão ao tentar garantir o combustível para manter o funcionamento de suas casas e fábricas. A Europa, que continua dependendo do fornecimento de gás da Rússia, está testemunhando suas empresas buscarem mais carvão para geração de eletricidade antes do inverno devido à alta recorde dos preços do gás e ao fornecimento escasso.

Enviado presidencial especial dos EUA para o clima

Uma autoridade disse que os diplomatas provavelmente chegarão a Glasgow com foco no gás, o que pode minar o argumento climático para que países emergentes abandonem o carvão. No passado, o problema pode ter sido contornado com mais facilidade. As autoridades temem que os principais países produtores de gás, como Rússia e Catar, também se sintam encorajados a defender seus próprios interesses nacionais na COP26, ameaçando abandonar os combustíveis fósseis.

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“A questão principal é se o aumento dos preços globais do gás faz a China vacilar ao se afastar do carvão”, disse Guy Newey, conselheiro político do governo do Reino Unido durante a cúpula do clima em Paris em 2015. “É preciso contestar a narrativa de que um futuro sem carvão é um futuro com alto custo de energia”.

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Alguns argumentam que a crise energética enfatiza o imperativo dos países mudarem para a energia renovável ou nuclear, pois isso reduzirá as emissões e aumentará a segurança do abastecimento. Mas a eletricidade limpa pode ser intermitente. O armazenamento em baterias ainda não decolou de forma a garantir um abastecimento confiável e o hidrogênio é muito caro para uso comercial.

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“Precisamos reconhecer que a descarbonização só funcionará com muito mais descarbonização”, disse Bim Afolami, membro do Parlamento do Reino Unido. “Isso mostra que estar uma fase de transição – ficar em cima do muro – deixa você vulnerável”.

(Michael Bloomberg, fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, empresa controladora da Bloomberg News, comprometeu US$ 500 milhões para lançar a Beyond Carbon, uma campanha que visa fechar as usinas termelétricas a carvão restantes nos EUA até 2030 e desacelerar a construção de novas usinas de gás.)

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