Bancos centrais veem riscos em moedas digitais emitidas pelo governo

CBDCs poderiam roubar uma grande fatia dos depósitos comerciais e prejudicar o financiamento da indústria

Diretores dos bancos centrais estão considerando a possibilidade de adotarem seus próprios tokens digitais
Por Jesse Hamilton
02 de Outubro, 2021 | 06:43 PM

Bloomberg — As moedas digitais lastreadas por bancos centrais podem se tornar o porto seguro de escolha numa futura crise financeira, agravando potencialmente as corridas contra os credores comerciais.

Isso tem potencial de gerar um abalo na estabilidade financeira, como levantado em uma série de relatórios elaborados pelos bancos centrais globais, incluindo o Federal Reserve dos Estados Unidos, o Banco da Inglaterra, o Banco Central Europeu e o Banco Nacional da Suíça, entre outros.

Durante uma crise, uma moeda digital do banco central “poderia ser vista como um porto seguro”, segundo relatórios publicados na quinta-feira (30) pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS). “Evidências de corridas bancárias sistêmicas anteriores indicam quão poderoso é o ímpeto de uma corrida aos bancos e, portanto, como os custos de transação mais baixos das CBDC - moedas digitais emitidas por bancos centrais - poderiam exacerbar esse fenômeno.”

Os diretores dos bancos centrais estão considerando a possibilidade de adotarem seus próprios tokens digitais, já que outras criptomoedas estão surgindo e aproveitando esta brecha para estabelecer transações internacionais instantâneas e simplificadas, com pouca ou nenhuma regulamentação. A China já está desenvolvendo um yuan digital, o que pressiona outros países a fazerem o mesmo.

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A pesquisa dos bancos centrais também detalhou os possíveis efeitos sobre as grandes instuições bancárias globais, sugerindo que as CBDCs poderiam roubar uma grande fatia dos depósitos comerciais e prejudicar o financiamento da indústria.

Moedas digitais emitidas pelo governo “podem causar maior volatilidade nos depósitos e/ou uma significativa redução dos depósitos de clientes no longo prazo”, de acordo com um dos relatórios. “Isso pode, dependendo das circunstâncias, afetar a lucratividade bancária, os empréstimos e a prestação geral de serviços financeiros.”

Ambos os riscos poderiam ser gerenciados por meio da imposição de controles rígidos sobre as CBDCs, sugerem os documentos. Limites rígidos sobre transferências ou propriedade de moedas digitais poderiam mitigar tais perigos, bem como o estabelecimento de um longo período de transição antes do lançamento de novos ativos. Salvaguardas relacionadas a precificação, como, por exemplo, taxas de juros não competitivas, também podem ser impostas, sugerem os relatórios.

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Wall Street e o setor de criptomoedas estão aguardando ansiosamente a publicação de uma pesquisa do Fed, que está para sair nos próximos dias. Isso deverá conduzir a conversa nos EUA sobre a adoção de um dólar digital. O Fed contribuiu com os documentos divulgados pelo BIS de quinta-feira (30), sugerindo que as questões que eles delinearam podem complementar o relatório pendente dos EUA.

“A prova final será aplicada quando avaliarmos se as moedas digitais emitidas pelo banco central e outras inovações digitais, de fato, oferecem benefícios claros e tangíveis que superem custos e riscos”, declarou o presidente do Fed, Jerome Powell, em uma coletiva de imprensa na semana passada.

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