Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — No dia 24 de setembro, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China e o Banco Central do país classificaram as transações com criptomoedas no país como atividades financeiras ilegais. Não foi a primeira vez que a segunda maior economia do mundo investiu contra as moedas digitais. Desta vez, porém, a percepção sobre esse novo endurecimento elevou as dúvidas e a preocupação acerca dos impactos dessa nova interferência.
Um dos fatores que têm deixado o mercado mundial desconfortável é quanto ao real motivo da medida. Não se sabe se ela deriva de uma preocupação legítima da China com questões envolvendo a lavagem de dinheiro ou uma tentativa de eliminar concorrentes da moeda digital chinesa, a e-CNY, ou, ainda, se é uma mistura disso tudo.
“A implementação das novas políticas do governo chinês ainda precisam ser observadas. Então, é difícil dizer o que pode acontecer. Sinto, porém, que o tom dentro do país desta vez é mais pessimista do que em ocasiões passadas, principalmente agora que o Bitcoin, Ethereum e Tether são termos abordados diretamente”, diz o jornalista chinês Colin Wu. Ele conta que, apesar das investidas anteriores, até a publicação dos documentos apresentados pelo governo e usados como base para a proibição das operações com moedas digitais agora, era legal transacionar ou possuir Bitcoin e outras criptomoedas. “Nunca foi tão detalhado como desta vez”, fala.
A ação do governo chinês também mirou a atividade de mineração de criptomoedas, classificando-a de “indústria eliminada”, que consiste em um aumento drástico no preço da energia elétrica para atividades que recebem esse rótulo. A intenção seria a de desestimular a prática dentro do território chinês.
Para Wu, esse tom mais grave deve ser sentido apenas dentro do país. “Apesar de achar cedo para dizer, não acredito que afetará muito o mercado de criptomoedas a nível global”, diz.
Rodrigo Cunha, diretor executivo da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) também observa de perto os desdobramentos das medidas chinesas. “A China já proibiu a circulação do Bitcoin em outras oportunidades. Ainda que essa última manifestação seja diferente das demais, acreditamos ser muito cedo para a análise dos efeitos, impactos e desdobramentos das medidas”, avalia.
DeFi como alternativa
Embora o preço do Bitcoin tenha recuado quase 10% em poucos minutos após o anúncio das novas medidas chinesas, de acordo com o agregador de dados sobre criptomoedas CoinGecko, é possível que a ação beneficie o ramo das finanças descentralizadas no médio e longo prazo.
As finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), regra geral, são compostas por plataformas que não possuem uma entidade ou organização por trás de suas atividades. Dessa forma, banir essas plataformas é mais difícil em regiões como a China, onde o governo decidiu apertar o cerco contra as moedas digitais.
Wu explica que, no cenário atual, é possível que os traders do mercado chinês passem a utilizar serviços de exchanges descentralizadas. “Se as exchanges centralizadas forem fechadas, muitas pessoas e muito dinheiro migrarão para as DeFi”.
O mercado de criptomoedas chinês é conhecido pela sua relevância. Em 2017, o país representava 90% do volume global de transações com moedas digitais, nos números do Investopedia, portal criado em 1999 que fornece dados e conteúdos educacionais sobre o mercado financeiro. Essa representatividade do mercado chinês na indústria cripto é anterior a um dos banimentos das transações com criptomoedas.
Ademais, um estudo publicado pela casa de análise Chainalysis em agosto de 2020 revela que o mercado de criptomoedas na região do leste asiático, do qual a China faz parte, movimentou 31% do volume total de negociações com criptomoedas entre julho de 2019 e junho de 2020, chegando à marca de US$ 107 bilhões. A região em questão é, sobretudo, caracterizada pela forte presença de traders profissionais, classificação dada àqueles que fazem movimentações superiores a US$ 10.000 com moedas digitais de forma recorrente.
Para os entusiastas que acreditam no setor de DeFi e em seu potencial transformador sobre o cenário econômico global, as ações proibitivas por parte do governo chinês podem impulsionar o movimento de descentralização.