10 municípios que mais desmataram ganham quase meio milhão de bois em um ano

Maiores desmatadores da floresta amazônica no ano passado viram seu rebanho bovino aumentar 8%. Desmatamento cresce em ritmo mais acelerado que a pecuária na região

Ritmo de desmatamento na região cresceu mais rápido do que o avanço da pecuária
01 de Outubro, 2021 | 09:46 AM

São Paulo — Os 10 municípios da Amazônia Legal que mais desmataram em 2020 tiveram um incremento de 480,4 mil cabeças em seus rebanhos no ano passado. Juntas, as cidades tiveram o corte raso de 3.830 quilômetros quadrados (383 mil hectares) de floresta, incluindo desmatamento legal e ilegal, registrado pelo Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

Na prática, para cada hectare desmatado nestes municípios, é como se 1,25 cabeça tivesse sido adicionada ao rebanho.

A área desmatada nessas cidades equivale a mais de duas vezes o tamanho do município de São Paulo. As mesmas, viram a somatória de seu rebanho bovino passar de 6,31 milhões em 2019 para 6,80 milhões de cabeças em 2020, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

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Sob uma perspectiva mais ampla, a situação é semelhante. Os cinco Estados que mais desmataram o bioma amazônico no ano passado cortaram 9,9 mil quilômetros quadrados de floresta, área equivalente a uma vez e meia a cidade de Xangai. Pará, Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Acre adicionaram a seus rebanhos 2,77 milhões de cabeças no ano passado, desempenho que representa um crescimento de 4% em comparação a 2019.

Evolução na última década

Nos últimos 10 anos, o ritmo do desmatamento na Amazônia Legal, região formada pelos Estados da região norte mais Mato Grosso e Maranhão, cresce de forma mais acelerada do que o próprio rebanho. Os dados do Prodes mostram que entre 2010 e 2020 o corte raso de árvores na região aumentou 62%, enquanto a evolução do rebanho bovino nos mesmos Estados avançou 25%, segundo o IBGE.

Apesar do contexto menos favorável à pecuária na última década, é importante ressaltar que essa realidade se intensificou nos últimos dois anos. Entre 2010 e 2018, a pecuária crescia na Amazônia Legal de forma mais intensa do que o desmatamento, demonstrando que a atividade não dependia da abertura de novas áreas para evoluir e que era possível crescer com ganhando eficiência e produtividade.

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Em 2019, no entanto, o desmatamento se intensifica no Brasil e passa a crescer mais rapidamente do a capacidade da pecuária evoluir. Mesmo tendo diminuído em 2020, o crescimento do corte raso de árvores na Amazônia Legal foi, novamente, superior ao aumento do rebanho na região.

Para a pecuária, a Amazônia Legal vem ganho cada vez mais relevância. Pode-se dizer quer as terras tradicionalmente mais baratas do que regiões mais consolidadas do centro-sul acabou por atrair a produção pecuária. Há dez anos, pouco mais de 35% do rebanho nacional encontrava-se dentro da Amazônia Legal. Segundo os dados do IBGE, no ano passado, 43% de todos os bovinos do país estavam inseridos na região.

Visão nacional

Em 2020, a pecuária brasileira foi influenciada pela pandemia e suas consequências no contexto internacional. O desdobrar da Covid-19 e suas medidas restritivas levaram à elevação do dólar, o que acabou por pressionar o preço dos insumos pecuários refletindo no preço da proteína animal. Outro fator que colaborou para o acréscimo de preço das carnes foi a alta demanda internacional por esses produtos, especialmente pelo mercado chinês. Diante desse quadro, os dados do IBGE mostram que o rebanho bovino do Brasil cresceu 1,5% no ano passado e atingiu a marca de 218,2 milhões de cabeças de gado.

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Mato Grosso e Goiás mantiveram os postos de maiores rebanhos do país e, juntos, foram responsáveis por 25,8% do plantel nacional. Minas Gerais perdeu o posto de terceiro maior rebanho para o Pará, após obter alta de 6,3% em seu rebanho, totalizando 22,3 milhões de cabeças. Mato Grosso elevou seu efetivo em 2,3%, totalizando 32,7 milhões de animais. Já Goiás teve um crescimento de 3,5% em seu rebanho, que atingiu 23,6 milhões de cabeças de gado.

São Félix do Xingu (PA) continuou líder no ranking de municípios com maior rebanho e atingiu o recorde histórico com 2,4 milhões de cabeças de gado, 5,4% a mais que no ano anterior. Corumbá (MS), que fica no Pantanal, seguiu em segundo lugar, com 1,8 milhão desses animais. Marabá (PA) subiu da quinta posição no ranking para a terceira colocação, após alta de 11,8% de seu rebanho, chegando a 1,3 milhão de bovinos.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.