Bolsonaro busca redução em imposto sobre diesel e gás para conter inflação

Sete em cada 10 brasileiros culpam seu governo pela perda de poder de compra, de acordo com uma pesquisa Datafolha realizada entre 13 e 15 de setembro

Por

Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro está pressionando os governadores e parlamentares a reduzirem os impostos sobre o diesel e o gás de cozinha em uma tentativa de conter o aumento dos preços de energia que estão prejudicando sua popularidade.

“Não há razão para o gás de cozinha custar R$ 50 reais na refinaria e depois ser vendido aos consumidores por R$ 130”, disse ele nesta quarta-feira em um evento no estado de Roraima, no norte do Brasil.

A inflação, correndo a uma taxa anual de mais de 10%, se tornou uma das maiores dores de cabeça políticas do Bolsonaro. Sete em cada 10 brasileiros culpam seu governo pela perda de poder de compra, de acordo com uma pesquisa Datafolha realizada entre 13 e 15 de setembro. Outra pesquisa do Modalmais e Futura Inteligencia na quarta-feira mostrou que o presidente pode perder as eleições do ano que vem para o esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva por uma margem crescente.

Embora a inflação esteja cada vez mais disseminada em todos os setores da economia, os custos dos combustíveis aumentaram mais de 40% em relação ao ano anterior - item com o maior salto nos últimos 12 meses.

O aumento do gás de cozinha, em particular, foi um duro golpe para a popularidade de Bolsonaro devido ao seu alto impacto nas finanças das famílias mais pobres, que no Brasil normalmente não têm acesso a redes de gás natural. O produto ficou quase 38% mais caro nas refinarias este ano, depois de seis aumentos de preços pela estatal de petróleo Petróleo Brasileiro SA, ou Petrobras.

O governo brasileiro dificilmente está sozinho na tentativa de encontrar soluções para conter a aceleração dos preços de energia que estão reduzindo o poder de compra dos consumidores. No México, o presidente Andres Manuel Lopez Obrador recentemente impôs limites de preço ao gás de cozinha, que fez a inflação dobrar a meta do banco central, e também anunciou um novo distribuidor de gás liquefeito de petróleo apoiado pelo governo.

Bolsonaro prometeu não interferir na política de preços da Petrobras para evitar gerar perdas para a empresa de capital aberto. Em vez disso, ele está pressionando os parlamentares para aprovar uma proposta que define um valor fixo para o ICMS cobrado pelos estados sobre os combustíveis.

“O preço do gás cairia pela metade, com certeza”, disse o presidente em Roraima, também defendendo um mecanismo de venda direta de gás de cozinha à população.

No entanto, uma reunião entre o presidente da Câmara, Arthur Lira, e líderes do partido para discutir medidas para conter os aumentos dos preços dos combustíveis, terminou sem acordo.

“As discussões estão em um estágio inicial”, disse Lira a jornalistas após o encontro, acrescentando que uma das alternativas debatidas foi a criação de um fundo de estabilização de preços. “Ninguém está feliz com a repartição dos preços dos combustíveis.”

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira a proposta que cria um programa federal para subsidiar os preços do gás de cozinha para as famílias pobres. O projeto, que visa reduzir o preço dos botijões de gás para pelo menos metade da média do ano anterior, ainda precisa do apoio dos senadores.

Separadamente, a Petrobras anunciou que estava reservando R$ 300 milhões para subsidiar também os preços do gás de cozinha para famílias carentes.

--Com assistência de Maria Eloisa Capurro, Martha Beck e Daniel Carvalho.

Leia também

Petrobras descarta risco de desabastecimento de gás com paralisação de campo

Petrobras anuncia reajuste de 8,9% no diesel a partir de amanhã