Polêmico encontro de Bolsonaro com Boris Johnson pode ampliar venda de frango

Em jogo, um adicional de 22 mil toneladas às cotas já disponíveis ao Brasil que poderiam ser atendidas de imediato pela indústria nacional

Presidente da República Jair Bolsonaro, cumprimenta o Primeiro Ministro do Reino Unido, Boris Johnson
29 de Setembro, 2021 | 05:52 PM

São Paulo — O polêmico encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, nove dias atrás, durante a reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York abriu as discussões para um incremento nas cotas de exportação de frango brasileiro para o Reino Unido. Apesar de não ser um “acordo de emergência” para fornecimento de alimentos como Bolsonaro chegou a mencionar durante uma live na semana passada, a reunião dos dois líderes colocou na mesa de negociações um adicional de 22 mil toneladas de frango.

No encontro, o presidente brasileiro ficou em uma saia justa após ouvir o primeiro ministro britânico elogiar a vacina da Oxford-AstraZeneca e dizer que já havia tomado duas doses. Em resposta, Bolsonaro apontou para seu próprio braço e disse que ainda não havia tomado. Não bastasse o clima do momento, a comitiva brasileira foi responsável por outro mal-estar diplomático com os britânicos. Presente ao encontro dos chefes de Estado dos dois países, Marcelo Queiroga, ministro da saúde do Brasil, testou positivo para covid-19 e soube do resultado um dia após a reunião, quando chegou a cumprimentar Boris Johnson. A notícia obrigou o britânico a realizar um teste de covid-19, que teve resultado negativo.

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Atualmente, o Brasil tem com o Reino Unido duas cotas de exportação de produtos com maior valor agregado. Uma é a de frango cozido, no total de 26 mil toneladas, em que o produto exportado é utilizado para fabricação de nuggets, hambúrguer, entre outros produtos. A outra cota é de frango salgado, produto vendido in natura, já com um percentual de sal, para ser utilizado pela indústria local para diversas aplicações. Nesse segundo caso, a cota é de 40 mil toneladas.

Veja mais: Apesar de mais caro, brasileiro vai comer mais frango em 2022

A proposta feita pelo governo brasileiro é que a cota de frango cozido seja elevada para 42 mil toneladas, o que representaria um incremento superior a 61% sobre os volumes praticados atualmente. No caso do frango salgado, a proposta seria mais modesta, de um incremento de 15%, para 46 mil toneladas anuais.

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“As indústrias estão prontas e preparadas para colocar esse volume adicional no mercado britânico. O setor já deu ok para o governo no que diz respeito à capacidade de atender essa demanda, mas sabemos que não é só a cota do frango que está envolvida nessa negociação”, disse Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Exportações de frango do Brasil

De janeiro a agosto, as exportações brasileiras de carne de frango somaram 3,05 milhões de toneladas. O volume representa um crescimento de 7,6% em comparação ao resultado registrado no mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 2,83 milhões de toneladas. Em receita, os resultados são mais expressivos. Os embarques acumulados até agosto renderam ao Brasil US$ 4,9 milhões, desempenho 18,2% maior que o observado nos oito primeiros meses do ano passado.

Segundo Santin, o fornecimento global de carne de frango deve se manter restrito, uma vez que os custos elevados que atingiram as indústrias brasileiras também começam a chegar nos concorrentes internacionais. “Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo interno está sendo retomado com a vacinação e acreditamos que as indústrias locais darão prioridade ao mercado doméstico”, afirma.

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México, Japão e Rússia são outros países onde a demanda por carne de frango tende a aumentar com a reaberturas de suas economias. No caso da Europa e Índia, os países também estão elevando suas respectivas demandas, com a diferença que existe um déficit na oferta de produto, o que abre a possibilidade de o Brasil aproveitar a oportunidade.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.