ESG virou ‘velho oeste’ de rótulo para qualquer coisa, diz veterano do setor

Para Matt Patsky, da Trillium, iniciativas de regulação são a “melhor coisa que aconteceu em anos” no segmento

Reguladores discutem regras para investimentos com selo responsável
Por Saijel Kishan
29 de Setembro, 2021 | 07:15 PM

Bloomberg — Um veterano em investimentos com padrões ambientais, sociais e de governança mal pode esperar por regulamentações mais rígidas para acabar com o falso marketing de gestores de fundos no setor de US$ 35 trilhões que ele ajudou a promover.

Matt Patsky, que comanda a Trillium Asset Management, começou a caçar investimentos ambientais, sociais e de governança, ou ESG em inglês, na década de 1990, muito antes de a maioria dos gestores sequer pensar na sigla. Agora calcula que apenas uma fração dos ativos ESG atualmente são investimentos sustentáveis.

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As iniciativas de reguladores para monitorar as divulgações sobre ESG feitas por gestores de ativos são “a melhor coisa que já aconteceu no setor em anos”, disse Patsky, cuja empresa de Boston administra US$ 4,8 bilhões. “Isso traz escrutínio para uma área que virou um velho oeste, onde os gestores têm liberdade para colocar rótulos ESG em qualquer coisa”, afirmou em entrevista.

Patsky, cujo principal fundo mostrava retorno de quase 20% até agosto, critica gestores que dizem aos clientes que estão investindo em ESG sem pressionar empresas de forma rigorosa para que causem menos danos às pessoas e ao planeta. Ele espera que regras mais rigorosas deixe o mercado mais seletivo. O empresário de 58 anos também aponta para gestores que usam apenas dados ESG, que segundo eles são falhos, para afirmar que estão fazendo investimentos sustentáveis.

Após anos de crescimento desenfreado, o setor ESG agora enfrenta novas regulamentações. Na Europa, o Regulamento para Divulgação de Finanças Sustentáveis entrou em vigor em março e obriga gestores a serem mais cuidadosos sobre os dados. O conjunto de regras contra o chamado greenwashing é o mais ambicioso no segmento, mas reguladores dos EUA e da Ásia buscam se atualizar em meio à crescente preocupação com fundos que exageram suas credenciais verdes.

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Patsky, que introduziu o primeiro índice “green chip” do mundo de empresas socialmente responsáveis em 1994, estima que dos US$ 35 trilhões que a Aliança Global de Investimento Sustentável diz estarem aplicados em investimentos sustentáveis, menos de US$ 1 trilhão está em ESG “real”. Desse total, US$ 500 bilhões são administrados na Europa e até US$ 300 bilhões nos Estados Unidos, disse.

A própria Trillium pressionou empresas como Johnson & Johnson e Starbucks em questões como a realização de auditorias sobre igualdade racial e redução do uso de plásticos. A gestora de ativos foi comprada no ano passado pela australiana Perpetual.

A Trillium foi fundada em 1982 pelo falecido pioneiro do investimento responsável Joan Bavaria. Seu principal fundo, o ESG Global Equity, mostrava retorno de 19,3% até agosto, em comparação com o ganho de 16,2% do índice de referência MSCI ACWI, segundo dados da Bloomberg.

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