São Paulo — O interesse de agricultores pela soja convencional nunca foi tão pequeno. Desde o advento das sementes transgênicas no fim da década de 90, o interesse dos agricultores em cultivar variedades que não sejam geneticamente modificadas vem caindo ano a ano.
Com o plantio da safra 2021/22 em andamento, mesmo com o clima seco ainda predominante nas regiões produtoras, o Brasil deve registrar mais um ano de redução da área destinada às variedades convencionais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fará sua primeira estimativa para a próxima safra no início de outubro, mas alguns Estados já estão com suas previsões prontas.
Em Mato Grosso, por exemplo, que representa cerca de um terço do plantio e da produção brasileira de soja, a expectativa é que sejam cultivados neste ano quase 10,8 milhões de hectares. Se confirmado, o número representará um crescimento de quase 4% sobre os 10,4 milhões de hectares do ano passado, com um incremento de pouco mais de 375 mil hectares.
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O crescimento da área, no entanto, não se aplica à soja convencional. Os últimos dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que de toda a área destinada ao plantio da soja no Estado neste ano, apenas 3,4% será semeado com sementes convencionais, o que representa cerca de 373 mil hectares. No ano passado, a área de soja convencional representou 4,2% do total, ou seja, 440 mil hectares.
“A alta dos preços da soja nos últimos anos desestimulou os produtores a optarem pelo grão convencional. Isso porque, nem todo mundo tem a habilidade e a infraestrutura para segregar a produção e garantir que não haja um mistura das variedades”, afirma Cleiton Gauer, gerente de inteligência de mercado do Imea.
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O custo cerca de 6% maior para se plantar a soja convencional em relação à transgênica em Mato Grosso é compensado pelos prêmios oferecidos pelas empresas compradoras. Segundo Gauer, quem se arrisca no cultivo recebe um bônus de US$ 3 a US$ 5 a mais por saca produzida. “A receita bruta certamente aumenta, mas percebemos que quem planta soja convencional é aquele produtor mais técnico, com estrutura. Na maioria dos casos, maiores que a média”, afirma. Um dos maiores produtores de soja convencional do Brasil, por exemplo, é a Amaggi, que tem uma infraestrutura própria de produção, transporte e armazenagem.
Nem mesmo o Paraná, que no início dos anos 2000 chegou a proibir o plantio de soja geneticamente modificada durante a gestão do então governador Roberto Requião, conseguiu se tornar um polo livre de transgênicos. Apesar de o Estado não ter um levantamento específico sobre a área cultivada com soja convencional, estima-se que o espaço dedicado oscile entre 3% e 5%. A última estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná estima que a soja deve ocupar 5,62 milhões de hectares na safra 2021/22, o que deixaria para a o grão convencional algo entre 169 mil e 280 mil hectares.
Principais compradores
Outro ponto que pesa contra a expansão do plantio da soja convencional é o número de empresas atuando no mercado. A produção só é viável em locais onde existem compradores próximos e hoje apenas Caramuru, Incopa e CJ Selecta atuam no mercado de soja convencional.
“De fato, a soja não-transgênica está virando um mercado de nicho. Acreditamos que sejam produzidas de 2 milhões a 3 milhões de toneladas por ano, mas que ainda oferecem uma rentabilidade interessante ao produtor. Além do prêmio, eles não precisam pagar royalties pelas sementes transgênicas”, afirma César Borges, presidente do Instituto Soja Livre, que atua no desenvolvimento da soja convencional.
Mercados para soja convencional
Existem hoje três grandes mercados para a soja não-transgênica do Brasil. Europa, China e Japão, despontam como os grandes clientes. Os europeus ainda são os principais clientes e compram a maior parte não transgênica do Brasil. Segundo Borges, a China produz cerca de 12 milhões de toneladas de soja convencional, destinada principalmente à produção de alimentos e não para ração, mas a oferta não é suficiente para atender toda a demanda.
No caso europeu, a soja não-transgênica é usada para abastecer as cadeias de frango, ovos e laticínios. Segundo o instituto, desde 2016 a Europa dobrou a produção local, mas ainda não tem volumes suficientes para atender seu mercado interno. Além do Brasil, A União Europeia se abastece com grãos convencionais vindos da Índia, Rússia e Ucrânia.
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