Bloomberg Opinion — O presidente Joe Biden revelou grandes planos no início deste mês para o combate dos Estados Unidos contra a Covid, ancorado pela obrigatoriedade das vacinas e a aplicação de doses de reforço. Na quarta-feira (22), ele voltou a atenção para o exterior na cúpula virtual sobre vacinas com líderes mundiais que visa proteger o mundo. No entanto, é possível fazer mais.
Três gigantes farmacêuticas – Merck, Pfizer e Roche – estão nas etapas finais de teste de medicamentos antivirais orais (a Merck em parceria com a Ridgeback Biotherapeutics e a Roche com a Atea Pharmaceuticals) que visam bloquear a replicação do vírus da Covid. Se administrados no início da infecção, esses medicamentos têm o potencial de impedir que as pessoas fiquem gravemente doentes ou acabem no hospital.
Como os comprimidos são relativamente baratos para fabricar em grandes quantidades e são fáceis de distribuir, o amplo financiamento pode transformar o cenário da pandemia. Os EUA já prometeram adquirir um suprimento limitado do tratamento da Merck e anunciaram US$ 3,2 bilhões em investimentos em antivirais em junho. Mas investir mais nos três programas antes da autorização poderia garantir um amplo suprimento de medicamentos que podem ser muito úteis para serem implantados assim que os órgãos reguladores derem luz verde.
É uma estratégia que o país usou no início da pandemia sob o governo Trump, com acordos que forneceram às empresas caixa antecipado para acumular estoques de vacinas. Com esses novos tratamentos orais, Biden pode seguir pelo mesmo caminho, porém em uma escala maior e com resultados mais rápidos. Os dados serão provenientes de ensaios clínicos importantes das três principais candidatas nos próximos meses e, embora o fracasso possa causar o desperdício de dinheiro, as possíveis recompensas valem o risco.
Em comparação com remédios de anticorpos e vacinas, que são produtos biológicos de fabricação cara e podem ter requisitos de armazenamento ou entrega onerosos, esses antivirais são simples. Os comprimidos podem ser escoados em grandes volumes usando equipamentos amplamente disponíveis e vendidos em farmácias ou clínicas locais, sem necessidade de agulhas ou freezers. Se bem-sucedida, a pílula da Merck custará aos EUA um terço do que foi pago pela terapia de anticorpos da Regeneron Pharmaceuticals. Isso antes mesmo de contabilizar o custo muito mais alto da administração de anticorpos.
Quanto aos remédios de anticorpos, o abastecimento continua inadequado nos EUA e inexistente em muitos países. No que diz respeito às vacinas, em 9 de setembro, apenas 2% das pessoas em países de baixa renda haviam recebido uma dose. Resolver esse problema é essencial, mas as cadeias de suprimentos estão esticadas, e vai demorar até a capacidade adicional entrar em operação. Nesse contexto, é fundamental também aproveitar as possíveis potências dos tratamentos orais. A contínua popularidade da ivermectina, medicamento para doenças parasitárias que não mostrou evidências sólidas de eficácia, deixa claro que há uma demanda substancial por uma opção conveniente que realmente funcione.
A relativa facilidade, velocidade e economia da produção de comprimidos podem resultar – com investimento suficiente e testes bem-sucedidos – em doses oportunas suficientes para todo o mundo. O maior benefício da ampla oferta viria de países de baixa renda que, do contrário, ficariam para trás. Milhões permanecerão vulneráveis por meses enquanto esperam pelas vacinas, tornando os tratamentos uma ponte protetora imprescindível. E o valor de um tratamento facilmente administrável que impede que as pessoas adoeçam gravemente é maior em locais com infraestrutura mais fraca. O segredo é gastar cedo, ser ambicioso e focar no financiamento direto da capacidade produtiva global.
“Esta é uma tragédia global”, disse Biden na cúpula para a vacina. “Não vamos resolver esta crise sem esforços incansáveis e com meias-medidas e ambições moderadas. Precisamos fazer nossa parte”.
Ele tem razão. Mas é preciso pensar além da vacina.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Max Nisen é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre biotecnologia, indústria farmacêutica e saúde. Anteriormente, escreveu sobre gestão e estratégia corporativa para a Quartz e a Business Insider.
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