A advogada Bruna Morato, que representa médicos que elaboraram o dossiê que acusa a Prevent Senior de ter distribuído indiscriminadamente medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 e de ter ocultado mortes pela doença, disse hoje, na CPI da Pandemia, que os médicos não tinham autonomia para decidir se os pacientes deveriam ou não tomar hidroxicloroquina e ivermectina.
Segundo ela, a empresa enviava a seus clientes um kit lacrado com os dois medicamentos – sem eficiência para a doença – além de vitaminas.
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“Os médicos eram, sim, orientados à prescrição do kit e esse kit vinha num pacote fechado, lacrado. Não existia autonomia quanto à retirada de itens desse kit. Inclusive, é importante observar também que quando o médico queria algum medicamento do kit, ainda que o médico riscasse da receita, o paciente recebia ele completo”, disse a advogada.
A advogada dos médicos reproduziu o seguinte relato: “Os plantonistas pegavam o kit, entregavam ao paciente e diziam: ‘preciso te dar, porque se eu não te entregar esse kit, eu posso ser demitido. Mas eu te oriento: se você for tomar alguma coisa daqui, tome só as proteínas e as vitaminas’. Porque os outros medicamentos, além de não terem eficácia, são muito perigosos para aquele público em específico.”
POR QUE ISSO É IMPORTANTE: A versão contraria o depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, na semana passada à CPI. O executivo disse que nunca houve um kit anti-Covid na Prevent Senior e que os médicos tinham total autonomia para receitar os medicamentos que lhes parecessem os mais adequados a cada paciente.
A Bloomberg Línea ainda não conseguiu ouvir a Prevent Senior sobre as declarações da advogada. Assim que a empresa encaminhar uma posição, essa reportagem será atualizada.
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Além de negar a a existência do kit anti-Covid, o diretor da Prevent Senior afirmou que o sistema do plano de saúde foi “invadido” e que o dossiê elaborado pelos médicos e apresentado pela advogada à CPI foi feito com dados “manipulados”.
Ontem, 33 deputados estaduais entregaram o requerimento de criação da CPI da Prevent Senior na Assembleia Legislativa de São Paulo. A comissão precisa ser aprovada pelo plenário. A empresa já é alvo de investigação da ANS e do Ministério Público de São Paulo.
CONTEXTO: Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), a Prevent Senior está entre os 10 maiores planos privados do Brasil e é a maior operadora de planos de saúde da cidade de São Paulo (com quase 21% dos beneficiários de planos privados na maior cidade do país). A empresa fechou o ano passado com 505 mil beneficiários e faturou R$ 4,3 bilhões.
Agora, a Prevent Senior é acusada de ocultar mortes de pacientes de Covid-19 propositalmente, segundo um dossiê elaborado por médicos e ex-médicos da empresa, que foi encaminhado à CPI da Pandemia.
Segundo o material entregue à CPI, médicos eram instruídos a alterar a causa da morte de pacientes que chegaram aos hospitais da Prevent Senior depois de um período de internação que variava entre 14 dias para pacientes de enfermarias e apartamentos e 21 dias para as UTIs. A alteração era no código do Catálogo Internacional de Doenças que identificava a Covid-19 no prontuário.
Batista Júnior reconheceu em depoimento na CPI que a empresa alterava os prontuários dos pacientes com a doença. Segundo ele, o “o CID podia ser modificado porque não representavam mais risco para a população do hospital” após este período de internação.
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