São Paulo — O Grupo Fleury, tradicional no segmento de medicina diagnóstica no Brasil, avalia oportunidades de aquisição, em meio ao processo de consolidação dos players nacionais do setor de saúde, no segundo ano da pandemia da Covid-19. Em entrevista à Bloomberg Línea, a CEO da companhia, a médica cardiologista Jeane Tsutsui, diz estar atenta também a ativos em outros elos da cadeia e na área digital, onde o grupo tem se destacado por meio da plataforma digital Saúde iD, que atualmente oferta até cirurgias simples (hérnia, catarata, amídgalas, por exemplo).
No fim do mês passado, a companhia comunicou ao mercado ter iniciado estudos preliminares para avaliar uma potencial transação envolvendo a empresa de diagnósticos médicos Alliar, alvo também da Rede D’Or. Segundo a CEO, o assunto não avançou e permanece o posicionamento de que o Fleury avalia continuamente oportunidades de aquisição que possam contribuir com seus objetivos estratégicos.
Veja mais: Qualicorp confirma plano da Rede D’Or de aumento de posição acionária
“Nos últimos 5 anos, nós fizemos 12 aquisições, em geral menores, mas são players que têm um alinhamento de valores e uma oportunidade muitas vezes até estratégica de entrar em uma nova região, como foi com o Pretti e Bioquímico [ambos laboratórios capixabas]”, que são importantes”, afirmou a executiva.
Ela reforça que o mercado brasileiro de medicina diagnóstica, apesar da existência de players maiores, ainda é bastante fragmentado. “O tempo inteiro nós olhamos as oportunidades [de aquisição], mas precisa ter um alinhamento de desejos, de preço, e de tudo mais, porque somos bastante disciplinados com relação a todos os fatores financeiros, mas o tempo inteiro sim temos olhado para oportunidades em medicina diagnóstica e nesses novos elos da cadeia”, diz Jeane.
Veja mais: Rede D’Or desiste de investida para comprar controle da Alliar
Transformação digital
A CEO do Grupo Fleury considera a transformação digital do setor de saúde como “algo sem volta”, mas esse processo tem de ser feito com cuidados, segundo ela, pois há preocupação com a proteção dos direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, garantida pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
A telemedicina já é uma realidade no Grupo Fleury, que contabiliza já ter realizado cerca de 600 mil consultas remotas, o que corresponde a mais de 3.000 atendimentos desse tipo por dia. Segundo Jeane, 40% das consultas são em regiões em que o Grupo Fleury não tem presença física.
Cibersegurança
A cibersegurança é outro tema que tem desafiado o Grupo Fleury. Em junho, o sistema da rede de laboratórios de diagnóstico médico sofreu um ataque de ransomware, restabelecendo o acesso aos resultados de exames de clientes apenas uma semana depois. A CEO diz que a companhia ainda negocia com a seguradora o reembolso pelo impacto do incidente em seu resultado financeiro.
Presente na entrevista, Jose Antonio Filippo (ex-Natura), CFO do Grupo Fleury desde agosto após a renúncia de Fernando Leão, reforçou a preocupação da companhia com cibersegurança. “TI e sistemas digitais sempre foram um item importante na nossa lista de investimentos e continuará sendo”.
ESG
Outro destaque recente do Grupo Fleury foi a aprovação, pelo seu conselho de administração, de uma emissão de debêntures atrelada a metas de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). “A gente criou neste ano um comitê ESG, cujo coordenador é nosso presidente do conselho, para mostrar cada vez mais o comprometimento da empresa e da liderança com os compromissos ESG”, diz a CEO.
Ela diz que a companhia trabalha a agenda ESG há mais de 20 anos, quando a sigla nem era usada pelo mercado, mas os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social já estavam na pauta de seus executivos e acionistas.
Leia também
Fusão Hapvida-GNDI tem ‘alto risco’ de restrições pelo Cade, diz Bradesco