Opinión - Bloomberg

Instagram não é lugar para crianças

Estudos têm relacionado a rede social a transtornos alimentares, baixa autoestima e outros males

Adolescentes associam a rede a uma série de problemas de saúde mental
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — As redes sociais são um campo minado de ansiedades para os adolescentes, como qualquer mãe ou pai podem atestar. Muitos estudos têm sugerido uma conexão entre o uso excessivo de plataformas online (e os aparelhos usados para acessá-las) e tendências preocupantes na saúde mental de adolescentes, incluindo taxas mais altas de sintomas depressivos, redução da felicidade e aumento de pensamentos suicidas.

Mesmo nesse contexto sombrio, o Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos extremamente popular do Facebook, se destaca mais do que as outras redes. Seu ambiente repleto de celebridades - reluzente, hedonista, implacavelmente sexualizado - parece perfeitamente ajustado para desestabilizar a mente adolescente. Estudos têm relacionado a rede social a transtornos alimentares, baixa autoestima e muitos outros males.

Portanto, talvez não seja surpreendente que uma pesquisa interna da empresa, revelada na semana passada, tenha descoberto que os adolescentes associam a rede a uma série de problemas de saúde mental. “Trinta e dois por cento das meninas adolescentes disseram que quando se sentiam mal em relação à própria aparência, o Instagram as fazia se sentir pior”, relatou a pesquisa. “Adolescentes culpam o Instagram pelo aumento da taxa de ansiedade e depressão”, constava em outro trecho. “Essa reação foi espontânea e consistente em todos os grupos.”

Se o Facebook estava preocupado com esses achados antes de virem a publico, não fizeram muito a respeito. Em julho, o Instagram lançou várias mudanças de política, que pretendiam proteger os adolescentes, como limitar o poder dos anunciantes de atingi-los e definir suas contas como privadas por padrão. “O Instagram está em um processo de refletir atentamente sobre a experiência dos jovens”, relatou um representante da empresa na época.

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Infelizmente, essa reflexão minuciosa produziu um resultado incoerente. Na mesma postagem em que o Facebook anunciou as mudanças, também admitiu que estava desenvolvendo uma nova versão do Instagram destinada a crianças menores de 13 anos. Chamado Instagram Youth, o conceito é tão obviamente desagradável que rendeu o rechaço imediato por parte de profissionais da saúde, órgãos de defesa ao consumidor, parlamentares democratas e republicanos e quase todos os procuradores do estado dos Estados Unidos.

Uma carta redigida por especialistas em saúde não poderia ser mais direta. “O foco implacável da plataforma na aparência, na exposição pessoal e na promoção de marcas apresenta desafios para a privacidade e o bem-estar dos adolescentes”, afirmaram. “As crianças mais novas ainda têm menos recursos, em termos de maturidade, para lidar com esses desafios, pois estão aprendendo a navegar nas interações sociais, nas amizades e em seu senso interno de potencialidades e desafios durante esta janela crucial do desenvolvimento.”

O Facebook justifica esse plano com base na teoria (um tanto indecorosa) de que, por não conseguir manter as crianças fora do Instagram adulto, a versão infantil vai “reduzir o incentivo para que pessoas com menos de 13 anos mintam sobre sua idade”.

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Pode-se atribuir tudo isso à falta de tato do Facebook para lidar com o assunto. No entanto, o tratamento que a empresa dispensa aos jovens tem sido especialmente irresponsável. Durante anos, ela se recusou a fazer mudanças que impedissem as crianças de fazer gastos excessivos no cartão de crédito em sua plataforma. Em 2016, começou a pagar aos jovens, incluindo menores, US$ 20 por mês para usarem um aplicativo que dava à empresa acesso total à sua atividade na web e no celular. Seu aplicativo Messenger Kids é direcionado a usuários a partir dos 6 anos, embora os especialistas tenham alertado que é altamente provável que “prejudique o desenvolvimento saudável das crianças”. Ainda que esses esquemas tenham tido uma péssima repercussão, isso parece não ser um impedimento para a empresa.

E aí nos perguntamos: o que seria, então, um impedimento? Para começar, as autoridades deveriam pressionar o Facebook a descartar totalmente o Instagram Youth e se empenhar mais em proteger os adolescentes nos serviços que oferecem. Algo que o Congresso deve considerar é que as proteções que já estão em vigor para crianças também incluam todos os usuários de até 15 anos, por exemplo. Além disso, pode-se criar uma expectativa legal de que as plataformas tomem mais medidas para evitar que os menores mintam sobre suas idades. No futuro, pode ser necessário criar normas mais rigorosas, talvez com base no Código de Design Apropriado para a idade, do Reino Unido, se as plataformas digitais se recusarem a levar este problema mais a sério.

As redes sociais já são desafiadoras o suficiente para adultos com poder de consentimento. Não é lugar para crianças.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.


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