São Paulo — No começo da semana, os mercados globais foram surpreendidos pelo caso da gigante incorporadora chinesa Evergrande. A companhia não realizou os pagamentos de juros que venciam na segunda-feira (20) para pelo menos dois de seus maiores credores bancários, o que deixou a incorporadora em crise mais perto de uma das maiores reestruturações de dívida do mercado chinês.
Em reunião recente com representantes da Evergrande, reguladores de Pequim disseram que a empresa deveria se comunicar de forma proativa com os detentores de títulos para evitar um default, mas não forneceram orientação mais específica, disse uma pessoa a par do assunto. A incorporadora tem um cupom de US$ 83,5 milhões que vence nesta quinta-feira, com 30 dias de carência para que o pagamento seja realizado.
Apesar do clima mais tranquilo nos mercados, investidores do mundo inteiro entraram em alerta máximo. As principais bolsas do ocidente registraram perdas substancias em diversos setores, com o fantasma da crise de 2008 que estourou nos Estados Unidos rondando as mesas de negociações.
O universo cripto não foi poupado. Na segunda-feira, o Bitcoin chegou a cair 10,7%, o que empurrou o preço abaixo dos US$ 43.000, seu nível mais baixo desde o início de agosto. O Ether caiu brevemente abaixo dos US$ 3.000. Tokens DeFi populares também não foram poupados e ficaram entre as maiores quedas: o Cardano caiu mais de 10%, assim como Dogecoin, enquanto Polkadot perdeu cerca de 16%, de acordo com o CoinMarketCap.
Perdas tão intensas pegaram de surpresa muitos investidores de criptomoedas, mostrando que os ativos digitais não estão completamente imunes a questões adversas em setores mais tradicionais da economia. Analistas apontam que o caso não pode ser ignorado ou subestimado pelos investidores de cripto.
“Por mais que a maioria dos eventos que impactam o mercado de cripto sejam internos, em uma crise ampla como esta, que aumenta a aversão à risco no mercado, os criptoativos também são impactados, afinal, eles integram a categoria dos ativos de risco”, diz João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex. “Numa situação como essa, você quer correr para aquilo que sejam ativos mais garantidos, então o mercado de risco inteiro sofre e cripto está incluído nisso”, diz André Franco, Analista de criptomoedas da Empiricus Research.
O Bitcoin foi uma das criptomoedas mais castigadas no início da semana, mesmo sendo um ativo historicamente descorrelacionado com o mercado tradicional. “A medida que esse mercado vai sendo englobado pelo mercado tradicional, ele pode perder as suas características, mesmo que momentaneamente”, comenta Franco.
A criptomoeda se propõe, entre outras coisas, a ser uma reserva de valor, mas Cunha lembra que, mesmo sendo a cripto mais antiga, o Bitcoin ainda não está totalmente consolidado como reserva. “Ele deve ser visto para o longo prazo. Nestes grandes eventos, o ativo também sofre, assim como o ouro, em alguns momentos de crise.”
Para os analistas, assim como para investidores de outros segmentos, situações de crise e incerteza devem ser acompanhadas com calma pelos investidores. “É preciso entender que os criptoativos são investimentos para longo prazo”, diz Cunha. “É importante não tomar nenhuma atitude precipitada.”
Além da calma, para Franco, o investidor também precisa ter plena consciência e segurança do tamanho da sua posição. “O que você definiu, o quanto você topa investir nesse ativo e o quanto você topa perder, é essencial pra estar bem colocado e bem exposto nesse mercado de maneira segura”, pontua.
-Com informações da Bloomberg News
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