Bloomberg — A alta de 1,14% do IPCA-15 em setembro, no teto das estimativas e acima dos 10% em 12 meses, reforçou a preocupação com a escalada dos preços e provocou nova inclinação da curva de juros, com aposta majoritária em aceleração da Selic, mesmo depois da sinalização de aumento de 1 ponto percentual dada pelo Copom.
Os analistas destacam núcleos pressionados e avanço dos combustíveis e da energia elétrica, itens que tiveram o maior impacto no índice, segundo o IBGE, mas que estão menos sujeitos aos efeitos do aperto monetário. A gasolina subiu 2,85% e acumula 39,05% nos últimos 12 meses.
Antes da reunião do Copom, na última quarta-feira, a curva de juros mostrava precificação de alta da Selic de 109,4 pontos para outubro. Depois do IPCA-15, a aposta subiu para 119,5 pontos.
A reação das taxas, no entanto, é contida tanto pelo comunicado de quarta-feira como pela declaração recente do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que a autoridade não vai alterar seu plano de voo a cada dado de alta frequência.
Veja o que dizem os analistas:
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- IPCA-15 em setembro veio alto e acima do esperado, com surpresas desfavoráveis em vários grupos e em particular o núcleo do índice e o núcleo de serviços, bens industriais e duráveis
Veja mais: IPCA-15 avança 1,14% em setembro, maior alta desde o Plano Real
Mariam Dayoub, economista-chefe da Grimper Capital
- Embora o Banco Central tenha sinalizado manutenção do ritmo de 1pp, o IPCA-15 pressiona os juros e indica que “possivelmente o aperto teria de ser um pouco mais forte, na margem”
- "Quando saiu o IPCA de agosto, essa também foi a reação. Até o Campos Neto dizer que não mudaria o plano de voo por causa de dados de curto prazo. Mas dada a surpresa, de novo, para cima, é natural o mercado reagir assim"
Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos
- IPCA-15 mais alto não deve mudar plano de voo do BC, "mas o risco de curto prazo para a inflação é de alta e isso vai continuar contaminando as expectativas"
- Ele não vê Selic em dois dígitos; ciclo deve terminar com taxa em 8,50% ou 9%
Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos
- IPCA-15 confirma leitura de inflação elevada no curto prazo, diante de repasses dos elevados custos de produção e efeito da aceleração dos preços dos serviços
- Desvios mais significativos em relação à projeção da XP vieram de preços de passagem aérea
- Média dos núcleos da inflação saltou para 0,76% em setembro, após alta de 0,54% em agosto
- XP diz que sua estimativa para o IPCA de setembro é de 1,09%, mas está em revisão, com "leve viés de alta"
Daniel Xavier, economista do Banco ABC
- IPCA-15 acima da mediana de estimativas do mercado mostrou um quadro qualitativo "bastante desfavorável" e reforça um cenário de ciclo maior de alta dos juros
- Núcleos vieram pressionados e todas as categorias estão em alta, como alimentação no domicílio, serviços, preços industriais e administrados
- Resultado divulgado hoje é compatível com IPCA fechado do mês acima de 1,2% e o ano tenderia a orbitar em cerca de 8,5%
- ABC projeta que a Selic chegará a 9,00% em fevereiro de 2022
- "O ritmo tende a ser mantido - é o adequado, na visão do BC - mas o orçamento será ajustado de modo a cumprir as metas"
CM Capital
- A política monetária não tem capacidade de modificar a trajetória dos preços administrados e dos preços de alimentação no domicílio, que são fixados por agências regulatórias e estão sujeito à evolução das safras, respectivamente
- Portanto, alterar a taxa de juros para modificar a inflação gera impacto sobre um grupo específico dos bens, os chamados núcleos da inflação, que, com o resultado de setembro acumulam inflação de 6,07% em 12 meses, acima da meta
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