No foco da CPI da Pandemia por suspeitas de manipular dados de pacientes de Covid-19, a Prevent Senior é uma empresa de capital fechado (não negociada em bolsa) que experimentou uma ascensão consistente nos últimos 20 anos apostando em atendimento de idosos, parcela da população geralmente desprezada por outras empresas do setor por conta de seus custos.
#1 – Qual o tamanho da Prevent Senior no país?
Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), a Prevent Senior está entre os 10 maiores planos privados do Brasil e é a maior operadora de planos de saúde da cidade de São Paulo (com quase 21% dos beneficiários de planos privados na maior cidade do país).
A empresa fechou o ano passado com 505 mil beneficiários.
#2 – Quanto a empresa fatura?
De acordo com a última demonstração financeiras, a Prevent Senior teve receitas de R$ 4,3 bilhões, um crescimento 14% sobre o faturamento do ano anterior (R$ 3,6 bi). Os custos ficaram estáveis: 3,6 bi (66,8% das receitas).
#3 – Qual a origem da Prevent Senior?
A empresa foi fundada em São Paulo, em 1997, com um hospital com oito leitos de enfermaria e dez de UTI. Seu foco sempre foi na população mais idosa, que tinha dificuldade de acessar planos tradicionais e que gera os custos mais altos em procedimentos em procedimentos de alta complexidade. A empresa ganhou musculatura operando hospitais próprios e com um foco em prevenção.
O sócio e CEO da Prevent Senior, Fernando Parrillo, costuma defender, nas ocasiões que fala publicamente, que o controle de custos da operadora é possível por causa dos investimentos em prevenção e acompanhamento antes de casos mais graves. Um dos exemplos seria o de doenças cardiovasculares. “Controlar o colesterol é barato. Colocar um stent é caro. Por isso, aumentar a atenção à prevenção é o melhor a se fazer”, afirmou em uma entrevista em 2018, à revista IstoÉ.
Com investimentos em telemedicina e prevenção, o plano tem conseguido manter sua planilha de custos sob controle – o que permitia ser agressivo em termos de preços de planos para idosos em relação à concorrência.
#4 – Qual a gravidade das denúncias agora?
A Prevent Senior é acusada de ocultar mortes de pacientes de Covid-19 propositalmente, segundo um dossiê elaborado por médicos e ex-médicos da empresa, que foi encaminhado à CPI da Pandemia.
Isso teria acontecido de duas formas:
1) Num estudo para avaliar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, nove pacientes teriam morrido, mas apenas duas mortes teriam sido relatadas na pesquisa. O presidente Jair Bolsonaro divulgou um suposto estudo da Prevent Senior em suas redes sociais para defender o uso desses medicamentos que não têm eficácia comprovada no combate à doença.
2) Segundo o material entregue à CPI, médicos eram instruídos a alterar a causa da morte de pacientes que chegaram aos hospitais da Prevent Senior depois de um período de internação que variava entre 14 dias para pacientes de enfermarias e apartamentos e 21 dias para as UTIs.
A CPI apresentou uma mensagem obtida junto a um dos médicos como seguinte teor: “Após 14 dias do início, pacientes de enfermaria, apartamento, ou 21 dias, pacientes com passagem em UTI, leito híbrido, o CID deve ser modificado para qualquer outro, exceto B34.2, para que possamos identificar os pacientes que já não têm mais necessidade de isolamento. Início imediato”.
B34.2 é o código da Covid-19 no CID (Catálogo Internacional de Doenças).
O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, reconheceu em depoimento na quarta (22) na CPI que a empresa alterava os prontuários dos pacientes com a doença. Segundo ele, o “o CID podia ser modificado porque não representavam mais risco para a população do hospital” após este período de internação.
Ele afirmou que o estudo da empresa sobre pacientes não tinha fins científicos, mas de “acompanhamento”.
Ele foi acusado por senadores de mentir e de ter trabalhado em conjunto com o chamado “gabinete paralelo”, que atuaria no Ministério da Saúde. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), exibiu vídeos em que Batista Junior tratava de protocolos de combate à doença com integrantes do grupo que atuava junto ao governo Bolsonaro.
Neste momento, Batista Júnior teve o status de testemunha alterado para investigado pela CPI.
#5 – O que o dono da Havan tem a ver com isso?
Na quarta, o jornal O Estado de S.Paulo informou que no dossiê encaminhado à CPI a declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang, teria sido fraudada para não constar Covid-19 como causa da morte. O prontuário afirma que a paciente foi internada no Hospital Sancta Maggiore e foi medicada com o chamado “kit Covid”, que inclui hidroxicloroquina e azitromicina.
A Prevent Senior nega qualquer irregularidade. Hang, um dos apoiadores mais vocais do presidente Bolsonaro no empresariado, defendeu o hospital. O empresário foi convocado pela CPI por suspeita de disseminar informações falsas sobre a Covid.
Quando teve Covid esse ano, Hang internou-se em um hospital do grupo em São Paulo.
#6 – Os hospitais da Prevent Senior são seguros?
Não há dados que indiquem os hospitais não sejam seguros.
No ano passado, o Ministério Público e a vigilância sanitária de São Paulo abriram investigações sobre Prevent Senior para apurar o número de mortes nos hospitais da rede no início da pandemia. Durante entrevista, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a insinuar que havia negligência nos hospitais da empresa. Não houve nenhuma conclusão, na esfera administrativa ou judicial, que confirmasse irregularidades nos hospitais da empresa naquele momento.
Na semana passada, a Agência Nacional de Saúde Suplementar realizou uma diligência na sede da operadora, em São Paulo. Três agentes da diretoria de fiscalização da ANS recolheram documentos. As buscas se estenderam por quatro horas.
“Foram solicitados esclarecimentos a respeito das denúncias sobre cerceamento ao exercício da atividade médica aos prestadores vinculados à rede própria da operadora, e sobre a assinatura de termo de consentimento, pelos beneficiários atendidos na rede própria, para a prescrição do chamado kit covid”, disse a ANS em nota.
Ainda não há resultado da apuração da agência reguladora.
Na CPI, o diretor-executivo Pedro Benedito Batista Júnior também disse que nenhum médico foi constrangido por não prescrever o kit Covid ou tratamento com hidroxicloroquina. Segundo ele, os médicos autores do dossiê tentam atacar a reputação da empresa por terem sido demitidos do quadro por, segundo ele, faltas éticas, como acesso não autorizado a prontuários.
#7 – A Prevent Senior apostou na hidroxicloroquina?
Desde o ano passado, a Prevent Senior acabou sendo muito identificada como porta-voz dos benefícios da hidroxicloroquina, apesar da OMS (Organização Mundial de Saúde) e especialistas internacionais não recomendar seu uso por ineficácia.
Em uma entrevista à revista Veja no ano passado, Pedro Benedito Batista Júnior afirmou: “Entre os dias zero e três da contaminação, a cloroquina evita a internação em 95% dos casos”.
Agora, na CPI, Batista Júnior disse que a decisão do tratamento adequado de cada paciente cabe ao respectivo médico, sem interferência da empresa. “Eram enviadas as medicações prescritas pelos médicos aos pacientes, nunca houve kit anticovid”, disse.