Fabricantes de café solúvel acendem luz amarela com alta dos preços

Cacique, Cocam, Iguaçu, Nescafé, Real Café e Café Campinho já sentem efeitos dos preços do robusta, variedade utilizada na fabricação do café solúvel, e temem perda de participação no mercado internacional

Indústrias acendem a luz amarela por conta da valorização dos preços do café solúvel, que começam a tirar a competitividade do produto brasileiro no exterior
23 de Setembro, 2021 | 02:12 PM

São Paulo — O café mais competitivo do Brasil já não está mais assim tão competitivo. Pela primeira vez em muitos anos, o robusta produzido no Brasil, variedade utilizada para fabricação do café solúvel, está mais caro que o robusta produzido no Vietnã. Os altos custos logísticos ainda inviabilizam a importação, mas as seis indústrias fabricantes de café solúvel instaladas no aqui já acenderam a luz amarela em relação ao custo e disponibilidade da matéria-prima.

Os preços do café robusta no Brasil está nos patamares mais elevados dos últimos quatro anos por conta da menor disponibilidade do produto. A saca de 60 quilos que valia pouco mais de R$ 70 na segunda quinzena de setembro do ano passado vale hoje, pelo menos, o dobro. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP) mostram que a saca de café robusta é cotada atualmente perto de R$ 150.

“O cenário que era incerto para a exportação, por conta da falta de containers e aumento de custos logísticos começou a piorar. Até a semana passada, nossos preços eram mais competitivos que os dos nossos concorrentes. Isso mudou nessa semana. Podemos começar a perder participação no comércio internacional”, afirma Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics).

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O principal concorrente do Brasil na produção de café é o Vietnã. O país asiático deve produzir cerca de 29 milhões de sacas, enquanto a oferta brasileira de café robusta está estimada em 16,5 milhões de sacas. A produção total do Brasil está estimada em quase 47 milhões de sacas.

Consumo maior no mercado interno

Apesar da alta dos preços, o consumo de café solúvel se mostra firme neste ano. Os dados da Abics mostram que, de janeiro a agosto, os brasileiros consumiram o equivalente a 670 mil sacas. O desempenho representa um crescimento de 3,7% em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo Lima, o ritmo de crescimento de 3% também foi registrado no ano passado e tem se mantido mesmo em meio à pandemia. “Havia uma preocupação sobre o crescimento com a pandemia, mas observamos que o ritmo de crescimento tem se mantido o mesmo desde 2016. As indústrias têm buscado investir em inovação e novos blends para atender o consumidor”, afirma Lima.

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O Brasil consome anualmente cerca de 22,4 milhões de sacas de café. Desse total, apenas 5% corresponde ao café solúvel. Em outros países do mundo, a proporção do solúvel é superior a 25% do consumo total, o que dá margem para as indústrias apostarem no segmento.

Padrão único de avaliação

As indústrias brasileiras estão liderando uma iniciativa para criar um protocolo sensorial do café solúvel, que possa ser aplicado em qualquer lugar do mundo. Diferente dos vinhos ou mesmo do café torrado, em que já existem critérios consolidados de análise que permitem uma classificação e comparação entre produtos, o mesmo ainda não existia para o café solúvel.

A Abics, juntamente com suas seis associadas e outras quatro indústrias de café torrado e moído estão desenvolvendo junto com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) de Campinas uma metodologia de análise sensorial comum. “Estamos em fase de validação do protocolo com especialistas internacionais e construindo um processo de aplicação. Ele permitirá que as empresas desenvolvam novos produtos e acreditamos que ele poderá ser aplicado de forma experimental a partir de 2022″, afirma Lima.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.