Copom sobe Selic para 6,25% e sinaliza nova alta de 1 ponto

Comitê de Política Monetária do Banco Central subiu a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a quinta alta consecutiva

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São Paulo — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros brasileira de 5,25% para 6,25%, em um movimento já esperado pelo mercado, na tentativa de conter a inflação. Entre 32 economistas pesquisados pela Bloomberg, 28 esperavam alta de 1 ponto percentual, três de 1,25 ponto e um de 1,5 ponto.

A autoridade monetária sinalizou ainda uma nova elevação na taxa da mesma magnitude na próxima reunião. ”O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, informou.

No comunicado, o BC reconheceu que a inflação ao consumidor segue elevada. “A alta nos preços dos bens industriais – decorrente de repasses de custos, das restrições de oferta e do redirecionamento da demanda em direção a bens – ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo. Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada”, afirmou.

A autoridade monetária afirmou ainda que persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis.

A fala recente do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que não iria mudar o plano de voo a cada dado de alta frequência, provocou forte ajuste na precificação da curva, que chegou a embutir apostas de 1,5 ponto. A inflação implícita de um ano está em 6,6%, perto do maior nível desde março de 2019, e a pesquisa Focus traz projeção para o IPCA acima do centro da meta também para 2022.

O mais recente ciclo de aperto monetário começou em março, quando a taxa Selic subiu de 2% para 2,75% ao ano. O BC manteve esse ritmo de alta de 0,75 ponto em maio e em junho, mas teve de acelerar o passo em agosto diante da resistência dos índices de preço e da dificuldade em ancoragem de expectativas de inflação.

O Copom volta a se reunir nos dias 26 e 27 de outubro.

Veja os comentários de analistas sobre a decisão de hoje

  • João Beck, economista e sócio da BRA Investimentos

“Temos dois destaques bem importantes no comunicado. Primeiro, o reconhecimento do Banco Central de que achou a nova velocidade de aperto. O BC agora entende que essa velocidade é a nova velocidade de cruzeiro das altas subsequentes e já sinaliza alta de mais um ponto para reuniões seguintes. O segundo ponto de destaque é que o BC não faz nenhuma citação direta ao que está ocorrendo na China. Mas em dois momentos do comunicado faz certa alusão. Com a economia em desarranjo, o consumidor é impactado de qualquer forma. Juros em alta é ruim para todos os setores, mas é um remédio amargo para conter o pior que é a inflação”

  • Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos

“A autoridade teria dificuldade para justificar uma manutenção no ritmo de elevação da Selic, com as expectativas, do Focus e do próprio BC, superando o alvo da meta para o horizonte relevante. Com o BC não gerando solavancos na Selic, sem alterar de maneira relevante comunicação nas reuniões que faltam esse ano, avalio que a autoridade irá elevar a Selic em 1 ponto nas duas oportunidades que restam esse ano, fechando 2022 a 8,25% e por mais uma vez na reunião de janeiro, encerrando o ciclo em 9,25%.”

  • Paloma Brum, analista de investimentos da Toro

“Embora esteja implementando o ciclo de alta na Selic, o Copom continua relativamente atrás da curva para manter a inflação sob controle no país. Portanto, o processo de normalização deverá continuar, conforme anúncio do próprio Comitê, o que, na minha visão, deve elevar a meta para os juros básicos no Brasil para um patamar próximo de 8,5% ao ano até o final de 2021″

  • Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos

“Imagino que a grande novidade está no cenário de projeções do próprio Copom. Outro ponto que ele também coloca é que está considerando a hipótese de escassez hídrica em dezembro desse ano, com bandeira tarifária vermelha, além de bandeira vermelha no patamar 2 em dezembro de 2022. Então ele está aconselhando crise hídrica em suas projeções”

  • Rachel de Sá, chefe de economia da Rico

“Copom mais uma vez frisou sua preocupação com desequilíbrios ainda presentes fruto da pandemia, que vêm se provando mais duradouros do que o esperado; além da elevação dos preços do setor de serviços, que acompanha a normalização da atividade no país. Os altos preços de energia, por conta da questão climática, o ainda alto patamar de commodities e a pressão do dólar também foram destacados como motores da inflação mais alta. Mas o destaque do comunicado ficou para a mensagem final, de que o “aperto monetário” deve avançar “no território contracionista”. Em bom português: o Copom elevará a taxa Selic até onde for necessário para trazer a inflação de volta à meta (de 3,50% no ano que vem), e isso significa ir além do território neutro e acima do que o comitê via antes.”

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