O que esperar do clima para a safra que se inicia

Como no ano passado, as chuvas estão atrasadas e temperaturas mais altas são esperadas. Entre previsão da Conab em 2020 e o que foi colhido de fato, Brasil perdeu o equivalente à produção de SP e SC juntos

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São Paulo — A primavera começa hoje e junto com ela a nova safra agrícola do Brasil. Apesar de a maior parte das regiões produtoras já estar liberada para plantar, não é o solo que tem a atenção dos agricultores, mas sim, as nuvens. Assim como aconteceu no ano passado, as chuvas estão atrasadas, o que impacta diretamente no início do plantio. Sem umidade no solo, as sementes simplesmente não germinam. Já é possível identificar chuvas em regiões de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, porém, ainda muito irregulares e em volumes insuficientes para recompor os estoques hídricos do solo.

“O padrão climático que bloqueava o início das chuvas já foi quebrado. Estamos prevendo um atraso para o início das precipitações, porém, não tão grande como foi no ano passado. Acreditamos que a partir da segunda quinzena de outubro as chuvas passam a ser mais regulares”, afirma Márcia Seabra, coordenadora geral de meteorologia aplicada do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão ligado ao Ministério da Agricultura.

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Depois do que aconteceu na safra passada, as preocupações com o clima aumentaram de forma significativa. Isso porque, em outubro do ano passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu em seu primeiro levantamento de safra uma produção de 268,7 milhões de toneladas de grãos. O resultado foi uma colheita de 252,3 milhões, 6% a menos do que o inicialmente projetado. O percentual pode parecer pequeno, mas em termos absolutos, seria como dizer que toda a produção de grãos de São Paulo e Santa Catarina juntos tivesse desaparecido ao longo do ano.

Para Isabel Garcia Drigo, gerente de cadeia de abastecimento agrícola do Imaflora, as instabilidades climáticas dos últimos anos e seus efeitos sobre a produção agrícola nacional estão relacionadas com as mudanças climáticas. “Com a aceleração dos efeitos precisaria haver uma aceleração também das aplicações das soluções. Os lentos passos que a atividade agropecuária caminha para mitigar sua emissão de carbono só piora esse quadro”, afirma.

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A expectativa é que tenhamos uma primavera novamente temperada pela La Niña, fenômeno climático em que se observa uma queda na temperatura superficial das águas do Pacífico. Com isso, a expectativa é de chuvas abaixo da média na região Sul, mas incluindo áreas de São Paulo e Mato Grosso do Sul e acima da média no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

“Chuva acima da média não significa chuvas regulares. Pode ser que essas chuvas se concentrem em um determinado período, deixando o restante seco. O que vemos como certo é que as temperaturas, sim, ficarão acima das médias em todas as regiões do país”, afirma Márcia, do Inmet. Para ela, o padrão climático está mudando, os período chuvosos estão ficando menores e é preciso se adaptar.

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