Gestão de liquidez sinaliza como governo chinês vai lidar com Evergrande

Para analistas, se o Banco Popular da China fizer uma grande injeção de liquidez significa que pretende evitar um estresse sistêmico, mas se retirar recursos sinaliza que tolera maior volatilidade

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Os investidores que buscam dicas sobre como Pequim planeja lidar com a crise da dívida da China Evergrande Group estão de olho na gestão de liquidez do banco central.

O Banco Popular da China (PBOC) retomará as operações diárias do open-market nesta quarta-feira após o feriado, e uma grande injeção de liquidez pode sinalizar a intenção de Pequim de reduzir o estresse sistêmico após a crise de Evergrande afetar as perspectivas para ações em todo o mundo. Por outro lado, se o PBOC retirar liquidez do mercado, isso pode significar que está preparado para tolerar uma maior volatilidade do mercado conforme a empresa fica mais perto de um default.

A necessidade de acalmar o nervosismo do mercado pode ser ainda mais premente se as ações da China continental caírem na retomada das negociações nesta quarta-feira, à medida que se recuperam das perdas ocorridas no exterior. O índice Hang Seng China Enterprises Index, um indicador das ações chinesas negociadas em Hong Kong, caiu mais de 3% quando os mercados da China continental ficaram fechados na segunda e terça-feira, mesmo enquanto analistas de Wall Street procuravam tranquilizar os investidores dizendo que o caso Evergrande não levará a um episódio como a quebra do Lehman Brothers.

O PBOC impulsionou as injeções de liquidez na semana passada, enquanto a crise de Evergrande agitava o mercado

“A China deixou o mercado em suspense”, disse Zhou Hao, economista sênior do Commerzbank AG em Singapura. “Os traíres não conseguem entender os pensamentos de Pequim sobre como a crise de Evergrande será resolvida e o quanto fraca a economia pode ficar. No curto prazo, o PBOC injetará liquidez de curto prazo suficiente para manter um amplo suprimento de caixa“.

A incerteza sobre como os problemas financeiros na maior incorporadora imobiliária da China - com US$ 300 bilhões em dívidas - seriam resolvidos aumentou à medida que as autoridades se abstiveram de fornecer garantia de que haveria uma solução liderada pelo Estado. A mídia oficial têm evitado amplamente comentar o assunto, exceto por um tablóide que disse que Evergrande era um “caso isolado”. A desaceleração da economia da China aumentou as preocupações dos investidores.

Ainda assim, embora os mercados acionários do continente possam seguir a derrocada das ações de Hong Kong nesta quarta-feira, muitos analistas - incluindo os do Citigroup Inc., Barclays Plc e UBS Group AG - dizem que a crise de Evergrande provavelmente não será o Lehman Brothers chinês.

O PBOC pelo menos tem se movido na direção certa, aumentando as injeções de dinheiro na semana passada para o nível mais alto desde fevereiro. O banco central precisará adicionar 130 bilhões de yuans (US$ 20 bilhões) nesta quarta-feira para garantir que a liquidez corresponda ao nível de sábado.

As operações de mercado de curto prazo da China têm como objetivo atingir um equilíbrio entre estimular o crescimento prejudicado por novos surtos de vírus e regulamentações mais rígidas, ao mesmo tempo em que evita bolhas de ativos. As autoridades também tendem a afrouxar o controle sobre a liquidez no final do trimestre devido ao aumento da demanda por dinheiro dos bancos para atender a exigências regulatórias. Os bancos também precisam acumular mais recursos antes do feriado de uma semana no início de outubro.

Simplesmente aumentar a liquidez não será suficiente para resolver a crise de Evergrande por si só, disse Ding Shuang, economista-chefe para a Grande China e Norte da Ásia da Standard Chartered Plc em Hong Kong.

“O que o mercado espera que o governo faça é apresentar um plano que possa ajudar a empresa a se reestruturar e se refinanciar de maneira suave”, disse ele. “O ponto principal da China é que ela não permitirá que a questão de Evergrande se transforme em uma crise financeira total ou que desencadeie qualquer risco sistêmico.”

A Evergrande não pagou os juros devidos na segunda-feira a pelo menos dois de seus maiores credores bancários, disseram pessoas a par do assunto, pedindo para não serem identificadas discutindo informações privadas. Cerca de US$ 83,5 milhões de juros sobre um título em dólar de cinco anos emitido pela empresa vencerá na quinta-feira, e o não pagamento em 30 dias pode constituir um default. A empresa também precisa pagar um cupom de 232 milhões de yuans em um título onshore no mesmo dia.

Os bancos comerciais anunciarão a mais recente taxa de empréstimo de referência na quarta-feira, embora os analistas esperem que a taxa de um ano seja mantida inalterada em 3,85%.

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