Mercado azeda e companhias engavetam planos de IPO na B3

Farmacêutica Althaia, loteadora Nova Harmonia e frigorífico São Salvador desistiram de abrir capital por conta da turbulência do mercado

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São Paulo — Três companhias interromperam neste mês seus processos de abertura de capital na B3 no momento de piora das condições do mercado de capitais, sacudido por temores de uma crise global com a desaceleração da China e preocupações com o crescimento da economia em um cenário de pressões inflacionárias, juros elevados e incertezas sobre o quadro fiscal e as eleições gerais de 2022.

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A farmacêutica paulista Althaia tinha até data para estreia no pregão (o próximo dia 27), mas avisou que os planos mudaram. Resultado: solicitou à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a interrupção do prazo de análise do seu pedido de registro de oferta inicial de ações (IPO) por um período de até 60 dias úteis, contados a partir do último dia 18.

A operação tem a XP como coordenadora líder. A companhia planejava usar os recursos captados para construir uma nova fábrica, ou seja, sem concluir o IPO, a farmacêutica terá de encontrar outras fontes de recursos ou esperar melhores condições de liquidez para retomar a oferta pública.

Nas corretoras, investidores tinham feito reservas dos papéis. “Todos os pedidos de reserva serão cancelados”, informou a Althaia, acrescentando que “todos os valores depositados serão devolvidos sem qualquer remuneração, juros ou correção monetária, sem reembolso de custos incorridos e com dedução de quaisquer tributos ou taxas eventualmente incidentes”, garantiu a companhia, que evitou citar, em comunicado, as razões de sua decisão.

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Outras duas que comunicaram desistência (e não só interrupção temporária como fez a Althaia) de IPO à CVM neste mês foram a loteadora Nova Harmonia e o frigorífico São Salvador Alimentos Participações, dono da marca SuperFrango, segundo informa o site da autarquia.

Por enquanto, a única companhia ainda com previsão de ser listada na B3 é a rede de academias Bluefit, que marcou sua estreia no pregão para o próximo dia 28, sob o ticker BFFT3.

Contexto

O movimento de desistências de IPO acelerou no começo do segundo semestre. No mês passado, quando anunciou sua desistência, a Athena Saúde, operadora de hospitais e clínicas, citou “a deterioração das condições dos mercados brasileiro e internacional que impactou diretamente os termos e condições da oferta pretendida”, no comunicado sobre sua decisão.

Nos últimos meses, o mercado financeiro tem atravessado um clima de aumento de incertezas sobre os rumos da política monetária dos EUA, que podem retirar os estímulos à economia e elevar os juros antes do esperado, as pressões inflacionárias no Brasil, além dos ruídos políticos em ano pré-eleitoral e preocupações com as novas variantes da Covid-19. Outro desestímulo às ofertas iniciais é o ciclo de alta da taxa Selic no Brasil, que torna o investimento em renda fixa mais atraente.

Hoje o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central inicia sua reunião de dois dias e amanhã deve anunciar o quinto aumento consecutivo dos juros básicos da economia. No último dia 4 de agosto, o colegiado decidiu, por unanimidade, elevar a taxa para 5,25% ao ano, observando que a “inflação ao consumidor continua se revelando persistente”.

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