Bloomberg — O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve elevar a Selic pela quinta vez seguida na quarta-feira (22) e repetir a dose de alta de 1 ponto porcentual da última reunião, para 6,25%, segundo economistas.
A fala recente do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que não vai mudar o plano de voo a cada dado de alta frequência, provocou forte ajuste na precificação da curva, que chegou a embutir apostas de 1,5 pp.
Ainda assim, uma minoria mantém a previsão de que o Copom vai acelerar ritmo -- entre 32 economistas pesquisados pela Bloomberg, 28 esperam alta de 1pp, três de 1,25 pp e um de 1,5 pp.
O BC também deve reconhecer agravamento do cenário para a inflação, que já provoca previsões de Selic acima de 9% no final do ciclo. A inflação implícita de um ano está em 6,6%, perto do maior nível desde março de 2019, e a pesquisa Focus traz projeção para o IPCA acima do centro da meta também para 2022.
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Veja o que dizem os analistas:
Mario Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú
- BC deve promover nova alta de 1pp, expectativa reforçada em comunicação recente
- Cenário inflacionário continuou se deteriorando e riscos permanecem elevados
- BC está correto ao indicar que a taxa de juros deve ser elevada para patamar restritivo e deve fazer duas altas adicionais de 1 pp em outubro e dezembro, levando a taxa Selic para 8,25% ao final de 2021, e uma alta final na primeira reunião de 2022, em fevereiro, para 9,0%
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- Expectativa é que o Banco Central eleve a Selic em 1 pp e mantenha mais ou menos o mesmo conteúdo do comunicado anterior, reconhecendo os riscos fiscais e de inflação, mas talvez, acrescentando que a política monetária atua com defasagens e que o cenário de juros acima do neutro é compatível com a convergência da inflação para a meta
- BC deve reiterar que fará o que for necessário para esse objetivo
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- BC deve promover novo aumento de 1pp, para 6,25%, nível moderadamente abaixo do neutro; Selic deve atingir nível acima do neutro por volta do fim do ano
- Diante da sinalização do BC sobre não reagir excessivamente a dado de alta frequência, há apenas pequena chance de alta de 1,25pp
- BC deve reconhecer recentes surpresas da inflação, sinais crescentes de disseminação, deterioração das expectativas inflacionárias para 2021-2022 e piora de cenário para os preços, incluindo o núcleo e serviços
Gustavo Arruda, diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas
- Banco manteve projeção de alta de 1,5pp por avaliar que BC deveria acelerar o passo e antecipar o ciclo, ainda que reconheça que probabilidade diminuiu depois da comunicação de Campos Neto
- "Mesmo que o BC não entenda que a aceleração do ciclo faça sentido, é importante deixar aberta essa possibilidade no comunicado"
- "Quanto mais tempo demorar para levar os juros ao campo contracionista, maior é o risco de se ter de fazer mais, de modo a compensar período com inflação acima da meta e expectativas desancorando"
- BNP Paribas vê Selic a 10% ao final do ciclo
Claudio Ferraz, Bruno Delalibera e Bruno Balassiano, economistas do BTG Pactual
- "Campos Neto foi o mais claro possível sobre a preferência do comitê por manter o passo", dizem, ao prever nova alta de 1pp
- Passo atual é bastante corajoso, permitindo que o juro entre logo no terreno restritivo; aceleração no momento atual indicaria grande mudança no ciclo pretendido e não houve qualquer sinal claro disso desde agosto
- Campos Neto considerou que as medidas a serem tomadas no orçamento vão respeitar a responsabilidade fiscal
Solange Srour e Lucas Vilela, economistas do Credit Suisse
- Banco espera quatro altas consecutivas de 1pp e um aumento final de 0,5pp
- BC deve aumentar a Selic para 8,25% ao final de 2021 e 9,75% no final de 2022
- Banco elevou estimativa de IPCA para 2021 de 8,1% para 8,5% devido ao aumento de alimentos, gasolina, preços industriais; elevada inércia sobre salários e preços do setor serviços também pesa na projeção para 2022, que subiu de 5,0% para 5,2%
Roberto Secemski, economista para Brasil do Barclays
- "Nossa convicção claramente diminuiu após a declaração de Roberto Campos Neto sobre não reagir a cada dado, mas ficamos com o que tínhamos", diz, ao prever alta de 1,25 pp neste Copom
- Há surpresas disseminadas na inflação, contínua deterioração das expectativas e o presidente do BC tem afirmado repetidamente que fará o que for necessário para trazer inflação à meta
- Setembro é a ultima reunião em que 2022 tem peso maior que 2023 no horizonte relevante de politica monetária, portanto a chance de se antecipar o ajuste seria agora
Caio Megale, economista-chefe da XP
- Os indicadores recentes sugerem que as perspectivas para a inflação seguem desafiadoras, especialmente a inflação corrente, que se mostrou mais disseminada
- Piora das perspectivas de crescimento e o aumento das incertezas externas podem representar um vetor desinflacionário
- BC deve manter ritmo de alta de juros em 1pp, com tom duro no comunicado; uma aceleração poderia se justificar, mas as incertezas elevadas recomendam cautela
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos
- Copom deve subir a Selic em 1pp e comunicado deve ser ainda mais hawkish, com preocupação adicional sobre a amplitude da pressão inflacionária após a surpresa dos últimos indicadores
- Riscos são muitos para que a inflação ultrapasse o teto da meta em 2022 e BC deve reforçar que essa probabilidade aumentou nas últimas semanas
- Seria também prudente, no mínimo, contratar mais 1pp para a reunião de outubro
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