Bloomberg — Enquanto o governo do Presidente Xi Jinping tenta domar as celebridades chinesas, a popularidade de um novo parque temático da Universal Studios em Pequim mostra que a influência de Hollywood continua presente na nação de mais de 1,4 bilhão de pessoas.
Os ingressos para a inauguração na segunda-feira (20), no valor de 638 yuan (US$ 99), se esgotaram em 30 minutos de vendas online na semana passada, bem como os quartos dos dois hotéis do resort, com uma diária de até 20.000 yuan, como informou a agência de notícias estatal. Fliggy, um site de viagens operado pela Alibaba, teve de se desculpar, na semana passada, por vender mais ingressos expressos, que permitem aos visitantes evitarem filas, do que tinham disponíveis.
O parque se tornou o tópico mais buscado na segunda-feira na Weibo, a plataforma equivalente ao Twitter na China. Mesmo na chuva, centenas de visitantes se enfileiraram para entrar, enquanto os que já estavam lá dentro postavam vídeos das experiências Harry Potter. A grandiosa cerimônia de abertura contou com a presença de autoridades do alto escalão do governo, incluindo o líder do partido em Pequim, Cai Qi, como divulgado pelo The Paper, agência de notícias estatal.
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A crescente demanda ressalta o desafio enfrentado por Xi Jinping de tentar abrandar a sede por celebridades entre os chineses. O Partido Comunista tem buscado diminuir as influências estrangeiras e promover o conceito de “prosperidade comum”. Um comentário amplamente divulgado nos meios de comunicação estatais na semana passada alertava quanto ao perigo da “cultura de fãs” e a “adoração à cultura ocidental”.
No início do mês, a Administração Nacional de Televisão e Rádio, agência reguladora de telecomunicações chinesa, obrigou canais de televisão e plataformas de internet a banirem astros do cinema que tenham um “comportamento político incorreto”, definirem tetos salariais e acabar com a adoração aos ídolos. Uma das estrelas do cinema mais famosas na China, Zhao Wei, teve sua presença da internet chinesa completamente apagada, enquanto outra atriz foi obrigada a pagar 299 milhões de yuans em multas, taxas e impostos atrasados, no mês passado.
A popularidade do parque temático da Universal Studios evidencia a resistência às restrições sobre os padrões culturais impostos pelo Partido Comunista após décadas de abertura a influências ocidentais, de acordo com Adam Ni, co-editor da China Neican, uma newsletter que cobre questões relativas a políticas públicas chinesas.
“Apesar do partido ser poderoso, ele terá que lidar com incontáveis decisões diárias por parte do povo chinês, que juntas formarão o tecido moral da República Popular”, afirmou.
Um pouco antes da abertura do parque ao público, dezenas de celebridades chinesas , incluindo a atriz Zhang Ziyi de “O Tigre e o Dragão” e a supermodelo Liu Wen, visitaram atrações de Jurassic Park, Transformers e Harry Potter. Fotos de outros convidados vestidos com capas de Hogwarts, e posando com Minions e personagens do Megatron viraram trend topics no Weibo, a versão chinesa do Twitter.
“O Universal Beijing Resort se tornou popular entre os chineses porque estão sedentos por uma parcela da cultura global,” acrescentou Ni. “Pequim está tentando reforçar esta dicotomia entre ‘chinês’ e ‘estrangeiro,’ mas ainda há muita admiração e curiosidade sobre as culturas estrangeiras na China. Ou seja, existe uma atitude ambígua quanto à cultura ocidental.”
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O projeto, que pretende atrair 30 milhões de visitantes por ano, é uma joint venture entre a estatal Beijing Shouhuan Cultural Tourism Investment e a Comcast NBCUniversal. A obra foi iniciada em 2001.
O novo embaixador chinês nos Estados Unidos comparou uma das montanhas russas do parque aos altos e baixos nas relações diplomáticas entre Washington e Pequim. “Depois de todas as voltas e sacolejos, o percurso terminou com um pouso suave,” Qin Gang, que visitou o parque antes de se mudar para os EUA, em julho.
Essa virada positiva foi compartilhada pelo jornal estatal Global Times, que na semana passada declarou que a popularidade do parque era um a demonstração da “confiança cultural da China”. Mas outros sinais indicaram que a atração poderia enfrentar desafios por parte do governo.
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Na quinta-feira, Qi, o chefe do partido de Pequim, pressionou os parceiros norte-americanos para incluir mais “elementos chineses” no parque, durante uma chamada de vídeo com Brian Roberts, executivo chefe da Comcast Corp, como informou o veículo de notícias estatal, Beijing Daily.
O Universal Beijing Resort não deu detalhes sobre como vai lidar com os pedidos feitos pela China.
Harrison Wang, morador de Pequim de 39 anos, que trabalha na indústria cinematográfica, fez muitos elogios ao parque temático após participar da pré-abertura.
“As pessoas vêm para ver as cenas e personagens famosos dos filmes que tanto admiram, bem como ter uma experiência de entretenimento de alto nível”, disse ele. “Como as fronteiras do país estão fechadas no momento, o parque oferece um gostinho da autêntica cultura ocidental.”
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