Evergrande testa determinação de Xi em frear setor imobiliário

Investidores precificam na incorporadora o risco de que as medidas para esfriar o mercado imobiliário chinês tenham o efeito contrário e acabem por afetar a economia

Por

Bloomberg — Quais são os limites das restrições do presidente da China, Xi Jinping, ao setor imobiliário do país?

A questão tornou-se repentinamente urgente nas mesas de negociações ao redor do mundo. Durante meses, investidores viram a crise da endividada incorporadora China Evergrande sob controle, mas, nesta segunda-feira (20), correram para precificar o risco de que as medidas de Xi para esfriar o mercado imobiliário chinês tenham o efeito contrário e acabem por afetar a economia.

A turbulência resultante poderia aumentar a pressão sobre líderes chineses para frear os controles ou pelo menos tomar medidas para limitar o impacto no mercado. Analistas do Goldman Sachs recomendaram que as autoridades enviem uma “mensagem mais clara” sobre como planejam impedir que a Evergrande cause “impactos significativos” na economia em geral. O Citigroup disse que as autoridades podem cometer um “erro de política de controle excessivo”. Economistas do Société Générale atribuem probabilidade de 30% de um “pouso forçado”.

“Embora a maioria não espere que a Evergrande entre em colapso de repente, o silêncio e a falta de ações importantes por parte das autoridades fazem com que todos entrem em pânico”, disse Ding Shuang, economista-chefe para Grande China e Norte da Ásia na Standard Chartered, em Hong Kong. “Espero que a China, pelo menos, ofereça algum apoio verbal em breve para estabilizar a confiança.”

O índice Hang Seng de Hong Kong caiu mais de 3% nesta segunda-feira (20), liderado por imobiliárias. O preço médio de dívidas com grau especulativo em dólares de emissores chineses teve a maior baixa em cerca de um ano. A queda de 12% dos futuros do minério de ferro só piorou as coisas, assim como feriados em muitos mercados asiáticos.

Autoridades chinesas, que recentemente contrataram consultores para analisar a Evergrande, não deram garantias públicas de que exista um plano liderado pelo estado para resolver a crise. Os comentários da mídia oficial têm evitado o assunto, com exceção de um tabloide segundo o qual a Evergrande é um “caso isolado” e que acusou meios de comunicação ocidentais de atacarem a economia chinesa. Não há sinais claros da entrada de fundos estatais no mercado acionário doméstico, como ocorreu em março.

A resposta até agora tem se limitado em grande parte à atuação do Banco Popular da China, que injetou 90 bilhões líquidos de yuans no sistema bancário na sexta-feira (17), e outros 100 bilhões de yuans no sábado.

Veja mais: Bitcoin despenca com receios pela incorporadora chinesa Evergrande

A Evergrande tem cerca de US$ 300 bilhões em passivos, mais do que qualquer outra incorporadora imobiliária no mundo. É uma gigante no mercado de títulos de alto rendimento em dólares da China, respondendo por cerca de 16% das notas em circulação. Cerca de US$ 83,5 milhões em juros de um título em dólares de cinco anos vence na quinta-feira, e o não pagamento em 30 dias pode constituir um default. A Evergrande também precisa pagar um cupom de 232 milhões de yuans (US$ 36 milhões) de um título onshore no mesmo dia.

As ações da Evergrande chegaram a cair 19% na segunda-feira, o que derrubou seu valor de mercado para uma mínima histórica por um breve período. A ação fechou em baixa de 10%.

“Como as autoridades não mostram sinais de hesitação em desalavancar o mercado imobiliário, as últimas manchetes sobre a Evergrande provavelmente sugerem que a atividade imobiliária pode se deteriorar ainda mais se o governo não fornecer um caminho claro para uma resolução futura”, disseram economistas do Goldman liderados por Hui Shan em relatório no domingo.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Efeitos da Evergrande e reunião do Fed devem pautar o mercado nesta semana

Ativos brasileiros devem sofrer com exterior: Principal do dia